O destaque é dado a obras que "subvertem noções de raça, sexualidade e género", assim como a "um conjunto de títulos que refletem sobre o papel de religiões como o Candomblé e a Umbanda", na sociedade brasileira, de acordo com os organizadores do ciclo, a decorrer até quinta-feira, na Cinemateca Portuguesa e na Casa Independente.

"A Experiência Afro-Brasileira na Tela" é uma iniciativa da Associação Cultural Janela Indiscreta, que organiza os festivais Queer Lisboa e Queer Porto, com a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa e a Cinemateca Portuguesa.

O ciclo abre hoje, na Cinemateca, com "Barravento" (1962), a primeira longa-metragem de Glauber Rocha, centrada na luta pela libertação de uma comunidade de antigos escravos, e com o documentário "Abolição" (1988), de Zózimo Bulbul, sobre a abolição da escravatura no Brasil.

No domingo, a mostra prossegue na Casa Independente, com as curtas-metragens "Pobre, Preto, Puto" (2016), de Diego Tafarel, "Labelle" (2015), de Isabel Nobre, e "Mulheres de Axé" (2013), de Marcos Rezende, e uma mesa redonda em que participam, entre outros, as investigadoras Clara Saraiva, da Universidade Nova de Lisboa, e Karla Bessa, da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.

Em causa vai estar "a vertente espiritual da cultura afro-brasileira e o papel fundamental que religiões como o Candomblé e a Umbanda tiveram na construção de identidades e de um espaço de liberdade", no acolhimento das diferentes sexualidades, na prevenção da sida e na criação de novos modelos de família.

Os temas estendem-se, segunda-feira, na Cinemateca, aos documentários “Odo Ya! Life With Aids” (1997), de Tânia Cypriano, e "É Minha Cara" (2011), do norte-americano Thomas Allen Harris.

"A Negação do Brasil" (2000), de Joel Zito Araújo, quarta-feira, também na Cinemateca, faz uma "história da representação e representatividade de negras e negros na cultura popular brasileira", segundo a apresentação da mostra.

O filme será exibido com a 'curta' "Cinema de Preto" (2004), de Ana Danddara, sobre Abdias Nascimento, escritor, artista plástico, professor universitário e ativista dos direitos civis, no Brasil, autor de "O Genocídio do Negro Brasileiro", que morreu em 2011.

O trabalho de jovens cineastas, de coletivos como o Movimento Tela Preta, Mulheres de Pedra ou a Surto & Deslumbramento, e o programa de curtas-metragens "Novas Vozes Femininas no Cinema Afro-Brasileiro", "que têm subvertido noções de raça, sexualidade e género", são outros destaques da mostra.

A organização cita o caso de Viviane Ferreira, realizadora e jurista, especializada em direito público e cultural, que vai estar em Lisboa na quarta-feira, para apresentar duas das suas curtas-metragens, "O Dia de Jerusa" (2014) e "Mumbi7Cenas Pós Burkina" (2010).

A ideia geográfica e mental da periferia, e a forma como atua na construção de identidades também são abordadas nos documentários "Branco Sai, Preto Fica" (2014), de Adirley Queirós, e "Morro dos Prazeres" (2012), de Maria Ramos, a mostrar terça-feira, e "Inside the Mind of Favela Funk" (2016), de Elise Roodenburg e Fleur Beemster, a exibir no último dia, sempre na Cinemateca.

O filme "A Rainha Diaba" (1974), de Antônio Carlos Fontoura, outro nome fundador no Cinema Novo, encerra o ciclo, na quinta-feira. A obra recupera a figura de “Madame Satã”, negro, boémio, homossexual, descendente de escravos, que marcou a sociedade brasileira nas décadas de 1930/40.

A instalação vídeo "A Mina dos Vagalumes" (2015), de Raphaël Grisey, sobre lutas dos quilombos, zonas de resistência desde a escravatura, fica patente durante a mostra, na Cinemateca.