Lina Wertmüller,
Jane Campion e
Sofia Coppola antecederam-na na nomeação, mas foi mesmo
Kathryn Bigelow quem fez história na cerimónia dos Óscares. Para além do seu filme, «Estado de Guerra», ter vencido seis Óscares, incluíndo o de Melhor Filme, ela voltou para casa com a estatueta dourada para Melhor Realização, tornando-se na primeira mulher a consegui-lo.

Bigelow parecia ter toda a plateia a torcer por si e até dois apoiantes improváveis tinha afirmado publicamente a vontade de a ver ganhar. Um deles, o ex-marido, James Cameron, que reclamava para o seu «Avatar» o prémio de Melhor Filme, mas «oferecia» a Bigelow o de realizadora. O outro, Quentin Tarantino, que afirmou não ter votado em si próprio para o prémio mas sim na cineasta norte-americana.

E ela não é uma cineasta qualquer. É a mulher da Sétima Arte que mais aborda temas em que a condição masculina está em primeiro plano. Temas duros, explosivos, sem a doçura que geralmente se associa às mulheres.

Bigelow começou carreira como pintora e entrou no mundo do cinema por via da arte, estudando depois teoria e crítica cinematográfica na Universidade de Columbia, com professores como Susan Sontag.

Após algumas experiências sem grande consequência, a primeira longa-metragem que realizou a solo, o «neo-western» de vampiros
«Depois do Anoitecer» (1987), foi um «flop» de público mas agradou à crítica e tornou-se desde então um êxito de culto. Seguiu-se o filme policial
«Aço Azul» (1990), com
Jamie Lee Curtis como polícia novata em perseguição de um assassino, mas o primeiro grande sucesso de Bigelow chegou com
«Ruptura Explosiva» (1991), com
Keanu Reeves e
Patrick Swazye. Os «100% de adrenalina pura» que o último reclamava no filme podiam ser aplicados ao trabalho de Bigelow: as suas películas são sempre vertiginosas na encenação da acção, notáveis na construção de ambientes de tensão e muito cuidadas no plano visual.

Um dos produtores de «Ruptura Explosiva» foi
James Cameron, então casado com Bigelow e este ano seu rival na conquista do Óscar. O realizador escreveu e co-produziu o filme seguinte da cineasta,
«Estranhos Prazeres» (1995), que, como quase todos os da carreira da realizadora, desenvolveu desde então um fenómeno de culto.

Após tentar o drama com
«Tempestade no Mar» (2000), Bigelow assinou o «flop»
«K-19» (2002), cujo fracasso levaria a que só voltasse à cadeira de realizador em 2009 com
«Estado de Guerra». O regresso, contudo, foi em beleza, com um filme sobre o desarmamento de bombas no Iraque que se tornou de longe o seu maior êxito de crítica, que tem sido um dos maiores arrebatadores de prémios da temporada e que, depois de ontem, a tornou na primeira mulher a ter um Óscar que até então apenas pertencia aos homens.