Karla Muga, a atriz brasileira que um dia despontou como a Grampola da popular “A Indomada”, telenovela de 2006, mudou-se para Portugal há oito anos, onde trabalha principalmente como treinadora de intérpretes.

Recentemente, viveu a Selma em “A Única Mulher” enquanto, ao longo de dez anos, esperava que um filme no qual investiu muita energia e esperança chegasse ao grande ecrã.

Nesta conversa com o SAPO Mag, ela conta os pormenores do filme que será exibido no âmbito do Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin), este sábado (04/03), no Cinema S. Jorge.

“O Intruso” foi um filme que teve uma longa trajetória em termos de produção e você também foi uma das responsáveis pelo projeto. Como foi esse processo? Por que demorou tanto?
O Paulo Fontenelle [realizador do filme] entregou-me o argumento em outubro de 2006. Quando terminei de ler tinha três nomes em mente: Eriberto Leão, Genézio de Barros e Danton Mello. O Paulo achou que eu estava completamente louca [risos]. O Eriberto foi o primeiro a alinhar. Seguiram-se Genezio, Danton, Charles, Lu Grimaldi e Juliana Knust. Apontámos as filmagens para janeiro de 2007. A maior parte do elenco estava a fazer telenovela e nós íamos filmar tudo em Itaipava [serra do Rio de Janeiro] – portanto foram muitas diretas! Tentámos ao máximo realizar o projeto com recursos próprios. Foi um grande desafio! Mas a pós-produção e distribuição no cinema podem ser bastante dispendiosas. Essa fase não conseguimos ultrapassar tão rapidamente. Mas estou tão feliz de estarmos na mostra dos filmes brasileiros do FESTin em Lisboa. Não tenho conseguido acompanhar o filme nos outros festivais. Não pude partilhar a alegria da entrega do prémio no Rio Fantastik Festival, onde vencemos o prémio da Longa-Metragem por votação do público.

Também é um projeto que reforça a sua crença na produção de cinema independente.
Não só no cinema independente, reforça a minha filosofia de vida. Temos que começar por algum lado. Mesmo depois do 'retomada do cinema brasileiro', passámos por uma fase difícil e bastante burocrática em relação à captação de recursos para o audiovisual. Mas não dá para parar. Existe sempre um caminho alternativo para aqueles que realmente querem muito fazer alguma coisa. E foi esse o raciocínio que segui. 'Vou reunir pessoas que acreditem que essa história precisa ser contada'. Que fique claro que não sou partidária de fazermos as coisas sem dinheiro. Não podemos ser inconsequentes com o reflexo disso no mercado. Existe uma indústria! Somos profissionais e precisamos ser remunerados. Mas existem momentos em que precisamos dar o primeiro passo. Além de mais, não tenho feitio para ficar à espera que os outros façam aquilo que não tenho coragem para fazer.

“O Intruso” é uma história de suspense sobre uma família que recebe em casa um estranho visitante. Como é que apresenta o filme ao público português?
Não posso contar muito sobre o enredo! Acabaria com suspense. É a história de uma família absolutamente normal, como tantas que conhecemos. Tudo parece muito tranquilo até que são informados que receberão um visitante misterioso. A família será submetida a regras bizarras e ficará proibida de sair de casa. Com o passar dos dias, começam a perceber a real natureza do estranho visitante. Estou curiosa para ver a reação do público. Sou suspeita para falar, gosto tanto do argumento que decidi produzir o filme, não é? Qualquer coisa que diga é bastante comprometedora [risos].

O seu primeiro grande papel foi o de Grampola, na telenovela “A Indomada”. Você ainda se recorda da experiência? Ainda o ano passado dizia que ainda hoje era reconhecida na rua por esse papel…
Sim, até hoje as pessoas recordam-se da Grampola com muito carinho. Até a imprensa! [risos]. Comecei a minha carreira aos 13 anos no Teatro O'Tablado. Fiz bastante publicidade, algumas telenovelas e séries. Aos 20, fui convidada para integrar o elenco d´ “A Indomada” como a Grampola. Uma telenovela no horário nobre com indíces de audiência altíssimos e uma personagem extremamente carismática, sem dúvida foi a cereja no topo do bolo. Depois disso ainda fiquei mais uns anos a viver no Brasil até decidir sair.

Sim, decidiu morar em Portugal e já vive cá há oito anos. Com as atividades que desenvolve aqui, como atriz e preparadora de intérpretes, pode-se dizer que está perfeitamente integrada. Por que decidiu viver cá? Sente muitas diferenças culturais?
Sempre tive vontade de estudar e viver uma temporada fora do Brasil. Depois de produzir “O Intruso”, decidi que era altura de dar esse passo. Quando vim para Portugal estava bastante focada na estruturação do meu trabalho de Preparação de Atores e "coaching". Dirigi a minha especialização para cá. As diferenças são muitas, mas sempre escolho focar-me naquilo que funciona. O projeto do “coaching” é vitorioso porque me permite trabalhar não só com atores e para além das técnicas de representação. Quando faz sentido para o artista, podemos aliar ao processo ferramentas de desenvolvimento pessoal.

Há pouco tempo viveu a Selma em “A Única Mulher”, que acabou em janeiro. Como foi a experiência?
Correu muito bem. Sempre fui muito bem recebida na TVI. Foi lá que comecei uma nova fase da minha vida profissional. Sem dúvida uma grande escola onde fiz amigos, ganhei imenso ritmo de trabalho, respeito e credibilidade para investir ainda mais na carreira de “coach”. Participei em projetos que recordo com muito carinho. O convite para fazer a Selma veio na hora certa. As coisas já estavam estruturaras e podia dar espaço novamente à minha "atriz". Faz bem à alma fazer aquilo que amamos. Sinto-me realizada com as minhas escolhas. Percebi que já sentia saudades de atuar.

Já tem novos projetos em cinema e televisão?
No final do ano vou filmar "O Intruso 2". A partir de Abril, eu e o Cassiano Carneiro arrancamos com o "23 Dias é uma estreia", um processo de pesquisa e ensaio que poderá ser visto no Teatro do Bairro em Junho. Além disso, estou a gravar "Conta um Conto", que poderá ser visto em breve nas redes sociais.

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