Carrie Fisher não foi apenas a Princesa Leia em "Star Wars" e de mais algumas personagens numa mão cheia de filmes: durante anos, foi uma das mais talentosas e procuradas "script doctors" de Hollywood.

O termo serve para definir alguém contratado para ajudar a reescrever um argumento que já existe ou polir algumas partes relacionadas com diálogos, estrutura ou ritmo. São trabalhos normalmente não creditados, mas que podem ser muito bem pagos.

Esta faceta da atriz não era desconhecida, mas a dimensão só agora começa a ser conhecida.

Em 1992, a Entertainment Weekly dizia que era uma das mais procuradas em Hollywood e para isso foi decisivo o argumento adaptado a partir do seu romance "Postcards form the Edge" ("Recordações de Hollywood" em Portugal) e principalmente o que fez para melhorar "Hook", de Steven Spielberg e com Robin Williams (1991), embora já "O Dueto da Corda" (1980), a lendária comédia com John Belushi e Dan Aykroyd, tivesse merecido a sua atenção.

Por causa dela é que provavelmente as comédias tiveram piada. E se o resultado final de alguns títulos não for grande coisa, certamente seriam piores sem a sua ajuda.

Entre os argumentos em que ajudou a resolver problemas e que se tornaram filmes famosos estão "Arma Mortífera 3", de Richard Donner (1992), "Do Cabaré Para o Convento", com Whoopi Goldberg (1992), "Outbreak - Fora de Controlo", com Dustin Hoffman (1995) e "Um Casamento Quase Perfeito", com Adam Sandler e Drew Barrymore (1998) e "Mr. e Mrs. Smith", com Brad Pitt e Angelina Jolie (2005), que terá sido um dos últimos seus trabalhos de "consultadoria".

Na lista impressionante de títulos estão ainda "O Último Grande Herói", com Arnold Schwarzenegger, "Feita por Encomenda", com Whoopi Goldberg e Ted Danson (1993), "O Meu Primeiro Beijo 2", com Dan Aykroyd e Jamie Lee Curtis, "Rio Selvagem", com Meryl Streep , "O Amor da Minha Vida", com Warren Beatty e Annette Bening (1994), "As Duas Faces do Espelho", de Barbra Streisand (1996) e até a animação "Anastasia" (1997).

Antes de se reformar, ainda deu uma ajuda com "Coyote Bar", com Piper Perabo, "Gritos 3", de Wes Craven (2000), "Kate & Leopold", com Meg Ryan e Hugh Jackman (2001) e "Crueldade Intolerável", dos irmãos Coen (2003).

A "caneta" de Carrie Fisher também passou por uma saga que conhecia bem: George Lucas não dispensou a sua ajuda para toda a segunda trilogia de "Star Wars", formada por "A Ameaça Fantasma" (1999), "O Ataque dos Clones" (2002) e "A Vingança dos Sith" (2005).

Mas não só: o diretor de fotografia William McCrabb publicou no seu Twitter uma página do argumento de "O Império Contra-Ataca" (1980) com as alterações que fez para melhorar tanto os diálogos de Leia como de Han Solo.

Em 2008, a estrela contou à Newsweek que tinha desistido de mexer nos argumentos depois de mudar a natureza do negócio.

 "Já não o faço há alguns anos. Fiz durante muitos anos e depois apareceram pessoas mais novas e comecei a fazer coisas novas. Foi um episódio longo e muito lucrativo da minha vida. Mas é muito complicado fazer", explicou.

"Agora, para se conseguir um trabalho para reescrever, temos de apresentar as notas com as ideias que temos para resolver os problemas do argumento. Então, eles [os estúdios] podem juntar todas as notas de todos os diferentes argumentistas, guardá-las e não nos contratarem. Isso é trabalhar de graça e algo a que sempre chamei de desperdício de vida", acrescentou com humor.

Noutra entrevista, quando lhe perguntaram qual o seu conselho para os argumentistas criarem magia, a resposta foi típica de Carrie Fisher: "Façam as mulheres mais inteligentes e melhores cenas de amor".