Essa fase da sua vida estava ultrapassada mas ela nunca a escondeu. Pelo contrário, partilhou a sua experiência em livros e entrevistas.

Um ataque cardíaco sofrido no dia 23 acabou por tirar a vida esta terça-feira à atriz que foi catapultada para a fama como a rebelde guerreira Princesa Leia, na trilogia original de "Star Wars", cujos três filmes, lançados em 1977, 1980 e 1983, se tornaram num fenómeno mundial.

Numa conferência de imprensa no ano passado, Fisher lembrou como se divertiu ao "assassinar" o seu captor, o vilão Jabba the Hutt, em "O Regresso de Jedi". A cena também é lembrada por muitos fãs pelos trajes de Leia, um biquíni dourado.

"Perguntaram se eu queria que um duplo matasse o Jabba. Não! É a coisa mais divertida que fiz como atriz", afirmou na ocasião.

Desde o seu nascimento, em outubro de 1956, em Los Angeles, a sua vida foi marcada pela extravagância de Hollywood.

Fisher nasceu do casamento entre a estrela de cinema Debbie Reynolds, conhecida pelo seu papel em "Serenata à Chuva", e o cantor Eddie Fisher. O relacionamento e o lar feliz em Beverly Hills terminaram quando Eddie Fisher trocou Debbie pela sua melhor amiga, a atriz Elizabeth Taylor.

No começo dos anos 1980, a sua vida foi marcada pelo álcool, pelas drogas e pela depressão, coincidindo com papéis fracassados em filmes como "Under The Rainbow" (1981) e "Hollywood Vice Squad" (1986).

Depois de ser aplaudida pela crítica pelo seu trabalho em "Um Amor Inevitável", de 1989, começou a deixar de representar para se dedicar a escrever.

Tornou-se, então, conhecida pela honestidade da sua escrita semiautobiográfica, incluindo o seu maior sucesso, "Recordações de Hollywood", que teve a sua versão em filme em 1990, com Meryl Streep e Shirley MacLaine nos principais papéis.

"Experiências infelizes"

Talentosa argumentista, Fisher fez a revisão de vários guiões, incluindo os de "Do Cabaré Para o Convento" (1992), "Outbreak - Fora de Controlo" (1995) e "Um Casamento Quase Perfeito" (1998).

Ao longo dos anos, deu várias entrevistas sobre a doença bipolar de que sofria e a dependência de remédios e de cocaína, que admitiu ter usado durante as filmagens de "O Império Contra-ataca" (1980).

Questionada pela Vanity Fair, em 2006, sobre como convenceu George Lucas a dar-lhe o papel da princesa Leia, respondeu: "Eu dormi com um nerd. Espero que tenha sido George".

"Usei muitas drogas para (me conseguir) lembrar" de quem foi, acrescentou.

A atriz também falou sobre a terapiade choques a que se submeteu, que consistia em pequenas descargas elétricas libertadas no cérebro para desencadear pequenas convulsões e tratar a depressão.

Na sua primeira coluna no jornal britânico The Guardian, ela prometeu "proporcionar apoio solicitado, baseado numa vida de trambolhões e acidentes".

Carrie Fisher disse, ainda, aos seus leitores que as dependências, os problemas sentimentais e os transtornos mentais equivalem a uma distribuição "repartida de desafios e experiências infelizes".

"Com o tempo, prestei atenção, tomei nota e esqueci-me facilmente de metade de tudo o que passei. Mas remexo a metade das lembranças e ponho-as aos pés", afirmou.

O livro que promovia antes de morrer era intitulado "The Princess Diarist" e baseou-se nos recortes de diários que guardou durante as filmagens da trilogia original de "Star Wars".

As memórias chamaram a atenção da imprensa depois de Fisher ter admitido ter um romance de três meses com Harrison Ford durante a rodagem do primeiro filme (Episódio IV), em 1976.

Na época, Carrie Fisher tinha 19 anos, e Ford, com 33, era então casado com a sua primeira mulher, Mary Marquardt.

A atriz foi casada por uma curta duração com o cantor e compositor Paul Simon nos anos 1980 e tem uma filha, a também atriz Billie Catherine Lourd, fruto do seu relacionamento com o agente de talentos Bryan Lourd.