Christian Bale interpreta Moisés em «Exodus: Deuses e Reis», o épico bíblico realizado por Ridley Scott que chega às salas a 11 de dezembro, e chateou vários escritores cristãos ao descrever a sua personagem como «bárbara» e «esquizofrénica».

Numa conferência de imprensa em Los Angeles, Bale disse que tinha feito bastante pesquisa, incluindo ler o Torá [os textos centrais do Judaísmo], Corão [o livro sagrado do Islão] e o livro de Jonathan Kirsch sobre Moisés [«Moses: A Life», 1999]. E foi nesse instante que fez a declaração que está a suscitar a polémica: «Acho que provavelmente o homem era esquizofrénico e um dos indivíduos mais bárbaros sobre quem li na minha vida».

O ator acrescentou que ficou surpreendido pela sua complexidade: «Ele era um homem muito problemático, tumultuoso e volátil. Mas a maior surpresa foi a natureza de Deus. Ele era igualmente bastante instável».

Como seria de esperar, estas opiniões não foram bem recebidas por escritores cristãos e «bloggers» que agora temem que o filme vá adulterar em demasia o texto bíblico original.

Um deles, Brian Godawa, que divulgou pormenores do argumento de «Noé», o filme de Darren Aronofsky protagonizado por Russell Crowe, ainda antes deste estar terminado, afirmou esperar que os comentários de Bale tenham sido «um reflexo do seu próprio fanatismo ignorante e não do próprio filme».

Por seu lado, Chris Stone, fundador da Faith Driven Consumer, referiu que «não existe nada na história bíblica que suporte [essa teoria]. Trata-se de um sinal de que irá existir uma tremenda desconexão entre a interpretação de Bale e as expetativas do mercado».

De facto, a organização cristã fez uma sondagem que mostrou que 74% dos americanos estariam mais inclinados a ver «Exodus: Deuses e Reis» se fosse biblicamente fiel, enquanto 68% não o fariam se soubessem que não era. «Esperamos sinceramente que este filme ressoe junto da nossa comunidade, por isso enviámos-lhes [ao estúdio] os resultados. A sua resposta foi «não precisamos ter mais qualquer conversa».

Estes comentadores, e outros, também fizeram críticas semelhantes a «Noé», lançado no início deste ano. Para esse filme, o estúdio fez mesmo versões alternativas, apesar da oposição de Aronofsky, e testou-as junto de audiências maioritariamente cristãs, que mesmo assim levantaram objeções. No fim, optou-se por lançar nas salas a versão do realizador, que apesar de ter rendido substancialmente menos no mercado dos EUA do que era esperado, tornou-se um grande êxito no marcado internacional.

A vaga de títulos de teor religioso lançados nos últimos anos, tanto por estúdios como por produtoras independentes, deve-se ao facto de se ter percebido que existia um potencial mercado com o sucesso astronómico de «A Paixão de Cristo» (2004). Apesar da reação oficial do estúdio, parte do carreira comercial de «Exodus: Deuses e Reis» depende precisamente da capacidade de atrair o público cristão, que só em 2014 tornou «God's Not Dead» e «O Céu Existe Mesmo» grandes sucessos nas salas.