O filme, produzido quase 10 anos depois do quinto título da série, foi lançado nos EUA em «video-on-demand» no final de setembro e sairá depois em «home video». O americano
Don Mancini, criador de Chucky e argumentista dos seis filmes da saga, retoma o papel de realizador, que assumiu em
«A Semente de Chucky» (2004). Mas uma década depois, o tom mudou radicalmente... «O que eu mais queria, acima de tudo, era que Chucky voltasse a ser aterrorizante», explicou Mancini à AFP. «Depois de ter feito duas comédias com «A Noiva de Chucky» e
«A Semente de Chucky», os fãs queriam o regresso às origens e ao terror».

«Além disso, é o 25º aniversário da saga e queríamos criar um fator de nostalgia no filme, ter uma espécie de carta de amor para os fãs», disse. A série Chucky, iniciada em 1988 com
«Chucky, o Boneco Diabólico», conseguiu ocupar um espaço de honra no rol dos monstros contemporâneos (ao lado do Jason de
«Sexta-Feira 13», Michael Myers de
«Halloween» e Freddy Krueger de
«Pesadelo em Elm Street») e arrecadou mais de 175 milhões de dólares em todo o mundo. Os três primeiros filmes da série eram de terror puro, mas «A Noiva de Chucky» (1998) marcou um ponto de viragem ao utilizar o humor irónico e auto-referencial.

«Chucky é uma personagem incrivelmente versátil. Funciona bem na comédia e no terror puro», disse Mancini. «Quando fizemos «A Noiva de Chucky», estávamos no auge da moda do humor auto-referencial nos filmes de terror», disse Mancini, que cita como exemplo
«Gritos».
«A Semente de Chucky» (2004) cometeu o erro de seguir pelo mesmo caminho», admite Mancini. O gosto pela ironia no cinema de terror começava a declinar para dar espaço ao «torture porn» (
«Saw - Enigma Mortal»,
«Hostel», entre outros), com a exposição de uma série de mutilações.

«O género terror reflete o que está a acontecer na cultura. Os anos 90 foram uma época feliz, em geral, nos EUA. As coisas pioraram muito na década seguinte», explica Mancini. «Os monstros do cinema adaptam-se e refletem tudo isso. Acredito que, hoje em dia, ninguém tem vontade de rir com os monstros porque eles estão muito presentes na vida real», destacou.

Em «Curse of Chucky», Mancini usou a tradição do cinema de terror gótico: uma casa antiga isolada, uma noite de tempestade, espaços obscuros, uma receita já testada e eficiente. «Adoro a estética gótica, os jogos de sombras, as escadas. Toda a ação acontece numa noite de tempestade, numa casa inquietante. Ninguém pode sair, ninguém pode ajudar do lado de fora». E, para colaborar com a sensação de claustrofobia, a personagem principal, Nica (Fiona Dourif, filha de Brad Dourif, histórica voz de Chucky), está presa a uma cadeira de rodas.

E Chucky, aos 25 anos, livrou-se das cicatrizes e recuperou, pelo menos na aparência, a textura. Mas também perdeu outras características, o que os fãs perceberão rapidamente. «Por exemplo, ele já não sangra», disse Mancini. «Parece-me que um boneco inanimado, que ganha vida, é muito mais aterrorizante se forem mantidas as propriedades normais de um objeto inanimado».