Ao longo de três meses (setembro, outubro e novembro) serão evocados não só os factos, mas também o imaginário associado aos acontecimentos ocorridos naquele ano no território russo, bem como os que se lhe seguiram durante a guerra civil ou outros que lhes estiveram associados (a diáspora da revolução ou o impacto em regiões vizinhas, como a independência da Finlândia).

O diretor da Cinemateca, José Manuel Costa, que apresentou hoje a programação para o final de 2017 e início de 2018, explicou a “ideia de fundo” por detrás deste ciclo: “Não podíamos deixar escapar a questão da representação de um grande facto histórico através da representação do cinema”.

José Manuel Costa socorre-se de uma frase de Jean-Luc Godard retirada das “História(s) do Cinema” - “aquilo que passou pelo cinema e foi por ele marcado, já não pode entrar noutro sítio” –, em que o cineasta francês se referia “à grande relação entre o cinema e a História”.

“A revolução de 1917 foi um dos momentos mais marcantes do século XX, se não o acontecimento mais importante que marcou o século XX. O cinema que resultou ou aconteceu no período pós-revolução foi a grande vanguarda soviética dos anos 20”, destacou o diretor da Cinemateca.

“O Couraçado Potemkine” (1925), de Sergei M. Eisenstein, é disso exemplo, um filme que “incendiou a imaginação de cineastas em todo o mundo e marcou o que veio a acontecer a seguir”, afirmou.

No entanto, o cinema que nasce da revolução “não é realista, não descreve factos”, “dá-lhe forma de alegorias” e prova disso é precisamente o filme de Eisenstein que, na verdade, é sobre a falhada revolução de 1905, mas foi o filme que mais deu a conhecer a revolução de 1917, tendo-se tornado o símbolo absoluto dessa revolução, segundo o dossiê da programação.

Do mesmo realizador, será exibido também “Outubro” (1927).

José Manuel Costa explicou que o pretendido era fazer um ciclo que evocasse como de formas tão díspares a revolução foi retratada no cinema, tendo, para tal, sido selecionados filmes que vão desde antes dos anos 20 até depois dos anos 60 do século passado.

“Filmes que de algum modo evocam e representam a revolução, cruzados com outros filmes de contextos diferentes relativamente ao tratamento que fizeram da revolução”, explicou, acrescentando que o ciclo conta com 39 sessões diferentes, às quais se juntam cinco sessões da rubrica “Histórias do Cinema”.

A exibição não é cronológica, mas o filme mais antigo é ainda de 1917: “O revolucionário”, de Evgueni Bauer.

O ciclo “1917 no Ecrã” abre no dia 07 de setembro com “As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolchevistas” (1924), de Lev Kulechov, uma sátira ao modo como o ocidente viu a revolução.

Este é apenas um dos géneros percorridos neste ciclo, que inclui documentário e ficção, filmes de registos diferentes, históricos, comédias ou dramas.

Outros filmes de destaque neste ciclo são dois sobre a revolução, mas que se encontram em polos opostos: “Escravas Brancas” (1937), de Karl Anton, filmado sob o nazismo, e “Noi Vivi” (1942), de Goffredo Alessandrini, realizador alinhado com o fascismo italiano.

Relativamente à rubrica “Histórias do Cinema”, será composta por cinco sessões, com a presença do historiador de cinema Peter Bagrov, que apresentará exemplos da obra do cineasta soviético Fridrikh Ermler, “um autor de enorme importância e um dos maiores realizadores a nível mundial”, como o descreve o próprio Bagrov, segundo José Manuel Costa.

“Katka, a vendedora de maçãs”, “Um fragmento do Império”, “Camponeses”, “Ela defende a sua pátria” e “Diante do julgamento da História” são os filmes que compõem esta rubrica.

O ciclo “1917 no Ecrã” conta com a colaboração do Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia cujo atual responsável executivo é também Peter Bagrov.