Christopher Nolan criou mais uma ópera cinematográfica com «Interstellar», um dos melhores filmes desta década e sério candidato a obra-prima. É uma obra singular no equilíbrio técnico e humano e na perfeita conjugação entre o puro espetáculo e as questões que definem a existência humana é difícil encontrar um cineasta tão visionário quanto Nolan no cinema contemporâneo.

O argumento foi escrito por Nolan e o seu irmão Jonathan Nolan (o criador da série «Sob Suspeita/Person of Interest») e «Interstellar» marca a vida do realizador após a sua bem sucedida trilogia dedicada ao Cavaleiro das Trevas. O filme esteve inicialmente para ser realizado por Steven Spielberg e produzido por Lynda Obst («Contacto») e Kip Thorne, e o lado «sci-fi» baseia-se essencialmente no trabalho deste reputado astrofísico.

Nos Estados Unidos, a produção pediu à crítica norte-americana para não revelar a identidade de personagens e as várias linhas de argumento. O filme foi rodado com um nome de código (a saber, «Flora´s Letter») e apesar de não termos os mesmos trâmites em Portugal, subscrevemos esta nota de intenções pois parece-nos um elemento essencial numa história cheia de segredos e revelações que alteram constantemente a narrativa e surpreendem-nos a cada instante. Quanto menos soubermos do argumento mais maravilhados ficaremos pelo espetáculo que temos à nossa frente.

Uma colega da revista METROPOLIS afirmou que estava a pensar vir de Coimbra a Lisboa para visionar o filme em IMAX e acreditem, a viagem compensa: se em 2014 tiverem de ir uma vez ao cinema, «Interstellar» é um bilhete obrigatório.

O filme tem uma duração titânica - 169 minutos , mas corre que nem uma flecha. Existem cenas filmadas com câmaras IMAX e já tínhamos observado em algumas sequências de «O Cavaleiro das Trevas» e na subsequente sequela, o poder, a visão e a escala de Christopher Nolan por detrás destas câmaras do tamanho de um bisonte. Aqui, as paisagens são de perder a vista, na Terra e na viagem até ao infinito, e merece destaque o trabalho do diretor de fotografia, o suíço Hoyte Van Hoytema.

«Interstellar» é uma ode ao engenho da humanidade e é dedicado a todos os exploradores e pioneiros que desafiaram com o seu espírito todas as convenções vigentes. A premissa inicial, a de um grupo de exploradores que parte rumo ao desconhecido à procura de um novo lar para a raça humana, é simples mas revela uma estrutura narrativa e emocional cheia de complexidade.

Não perdemos o fio à meada graças a um excelente trabalho na montagem final, que permite a inserção da Teoria da Relatividade, um «wormhole» e o passado e o futuro a colidirem em todo o seu esplendor entre o espaço e o tempo. Mas o amor, o elemento unificador, tão essencial quanto a própria vida, prova ser a chave para desmistificar todos os enigmas do universo na relação entre dois amantes separados por uma galáxia e o amor dos pais pelos filhos. E como vem sendo habitual nos registos de Nolan, são os laços humanos que se expressam com maior intensidade nesta magnífica fábula sobre a sobrevivência da humanidade impelida pelo amor que transcende a dimensão espácio-temporal.

Os actores têm um trabalho meteórico: grandes interpretações criam empatia com a história na vertente de exploração espacial e existencial e Matthew McConaughey é o pilar com a interpretação do estereótipo de herói clássico da Sétima Arte.

A finalizar, destaque sobre o magnifico trabalho da montagem sonora: o som mexe com a alma do espetador a anda de mãos dadas com mais um tratado sonoro do compositor Hans Zimmer.

«Interstellar» é absolutamente imperdível.

JORGE PINTO

5 estrelas

Revista Metropolis

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