Ross Putman,  um produtor de cinema e televisão independente americano, criou a conta @femscriptintros no Twitter e está a partilhar as descrições das personagens femininas nos argumentos que lhe chegam à secretária.

"Nomes mudados para JANE, de resto textualmente. Atualizado conforme avanço. Desculpem se citar o vosso trabalho", refere a apresentação da conta.

O caso não é para menos: as descrições oferecem uma visão bastante crua do sexismo em Hollywood, onde há uns anos ficou celebre a forma como Michael Bay filmou Megan Fox a lavar um carro em "Transformers".

"Todas as cabeças se viram para ver Jane (28) à porta: deslumbrante e a tentar o seu melhor para o esconder" ou "Jane, 28, atlética mas sexy. Uma beleza natural. Na maioria dos dias veste jeans e fá-los ter bom aspeto" são dois exemplos já partilhados e que estão a tornar a conta viral.

"Jane resvala a sua figura deslumbrante para um vestido apertado, enfia os  seus sapatos altos 'f***-me' e observa-se ao espelho da cómoda" é realmente a introdução de uma personagem feminina num argumento a circular por Hollywood, tal como "A sua mulher Jane está a fazer o jantar e a ver a CNN num televisão pequena. Um dia foi bonita como uma modelo, mas ter uma vida a sério deixou as suas marcas".

Quando um utilizador do Twitter expressou as suas dúvidas sobre o caráter genuíno das frases, Putnam respondeu que "se tentasse não as conseguiria inventar".

O produtor adiantou que pretende colocar as apresentações de todas as personagens femininas de cada argumento a que tiver acesso, independentemente de serem sexistas ou não, mas uma vez que tantas parecem ser "lindas de morrer ou giras e muitas vezes nem têm consciência disso", alerta que as pessoas "se vão aperceber que muitas são... bem, igualmente problemáticas".

As reações de divertimento e horror estenderam-se à própria meca do cinema.

Cheryl Strayed, a escritora do livro "Livre", cuja adaptação cinematográfica (2014) valeu a Reese Witherspoon  e Laura Dern nomeações para os Óscares, escreveu que riu e chorou com a forma como as mulheres são descritas.

Já Max Landis, argumentista de "Crónica" (2012) e "American Ultra: Agentes Improváveis" (2015), confessou que eram "frustrantemente reais.  Ultimamente tenho estado a ler tantas amostras de escrita".

E Gary Whitta, que escreveu "O Livro de Eli" (2010) e faz parte da equipa de "Rogue One: A Star Wars Story" (2016), diz que a conta o fez refletir sobre o seu próprio trabalho.

"Ando a ver os meus argumentos antigos para ver se as minhas personagens passariam o teste @femscriptintros. Talvez coloque os resultados em breve".