Depois de encantar o público com o altamente emocional “Elena”, a brasileira Petra Costa retorna num trabalho em parceria com a cineasta dinamarquesa Lea Glob e com os atores Olivia Corsini e Serge Nicolau – ambos a fazerem de si próprios em “O Olmo e a Gaivota”.

A abordagem é recorrente num IndieLisboa que, a exemplo do ano passado, traz vários títulos marcados pela mistura entre ficção e documentário.

 Neste caso, a maternidade é o foco da história em que uma atriz de teatro tem de abandonar temporariamente a carreira porque está grávida.

Para a mulher contemporânea, a decisão de ter um filho é carregada de consequências, não só de ordem prática mas também na forma como os nove meses de gestação a afetam psicologicamente.

 Apesar da simplicidade e da justeza óbvia da proposta, bastou um pronunciamento de Petra Costa, após receber o prémio de Melhor Documentário no Festival do Rio, para as implicações causarem polémica.

No Brasil, como em qualquer país católico, a questão do aborto (sem relação direta com o filme) ainda é sensível e a prática seria uma extensão do direito da mulher sobre o próprio corpo.

Os comediantes tristes

Navegando por outras paragens, o norte-americano Rick Alverson traz em “Entertainment” uma tristonha reunião de talentos cómicos – seguindo as suas próprias pegadas lançadas em “The Comedians”.

O filme inclui no elenco comediantes como Gregg Turkington, Tye Sheridan e John C. Reilly, num argumento que contou ainda com a ajuda de outro cómico, Tim Heidecker.

Longe de um filme “para rir”, no entanto, Alverson traz um melancólico 'road movie' sobre a América profunda, mostrando um 'entertainer' que se afunda enquanto à sua volta desfilam os signos contrastantes do empreendedorismo 'yankee'.

As apresentações do protagonista são o ponto 'alto-baixo' do filme – exibindo o esforço inglório de performances feitas em lugares às vezes vazios, enfrentando públicos indiferentes ou até mesmo hostis.

Já “Paul” é o terceiro filme da competição portuguesa a ser exibido e marca a estreia na ficção do realizador Marcelo Felix (“A Arca do Éden”).

O enredo tem contornos metalinguísticos e gira em torno de uma legendadora de filmes que se sente afetada pela história que tem em mãos.

Destaque ainda para “Le Fils de Joseph”, de Eugene Green, vindo de uma elogiada passagem pelo Festival de Berlim e com participações de Mathieu Amalric e Maria de Medeiros no elenco.