Menos um filme de terror e mais um drama que recria a mentalidade mística do século XVII, “The Witch” foi um das sensações do último festival de Sundance e rendeu a Robert Eggers o prémio de Melhor Realizador.

A história foca-se numa família de puritanos ingleses estabelecidos nos Estados Unidos que decide viver em isolamento para fugir à “corrupção” da cidade. Mas em vez de paz e sossego, o que eles encontram é o horror vindo da floresta próxima.

Eggers quis retratar o medo ancestral das bruxas mergulhando no imaginário da época através de uma intensa pesquisa. Essa fidelidade histórica levou a que os atores, incluindo as crianças, dialoguem permanentemente através de uma rebuscada litania religiosa. A bruxa, por seu lado, serve como catalisador do medo interior de cada personagem, num filme que demonstra que fé, superstição e delírio caminham próximos.

'Rock’n’roll' na Tunísia

A Primavera Árabe continua a ecoar nos espíritos dos artistas locais e se “In the Last Day in the City” centrava-se no Cairo, "As I Open My Eyes (À Peine J’ouvre les Yeux)" retrocede aos dias anteriores aos acontecimentos naquele que foi o epicentro do movimento, a Tunísia.

O registo não podia ser mais distinto: enquanto no primeiro predomina uma abordagem contemplativa, este último traz a urgência da juventude num filme que envolve o conflito de gerações e a protagonista é uma jovem obrigada seguir a carreira na medicina quando o que quer é tocar numa banda de rock.

De notar o espírito dos 1960s no vigor e na ingenuidade juvenis por trás das suas canções de protesto, trazendo um paralelo interessante com o mundo consumista e conformado do Ocidente 50 anos depois de 'hippies' e afins.

A música tem um brilho próprio e a realizadora Leyla Bouzid deixa a banda fictícia Joujma fazer longas 'jam sessions' ao longo do filme. No mundo real está por trás dela Khyam Allami, um músico multifacetado conhecido no seu país – que embala a temática juvenil com um rock vigoroso e agradável, onde os ritmos ocidentais misturam-se às sonoridades locais.

E mais música…

Outro dos destaques é o brasileiro “Boi Neon”, do realizador de “Ventos de Agosto”, Gabriel Mascaro.

O filme recebeu o prémio especial do júri da secção Horizontes do Festival de Veneza e segue as andanças de um típico peão do Nordeste brasileiro que não desiste do sonho de ser estilista.

Na ficção, destaque ainda para “Underground Fragrance”, do chinês Pengfei, que mergulha no mundo sombrio dos subterrâneos de Pequim.

Num dia fortemente musical, Caroline Richards reconstrói a fulgurante passagem dos portugueses The Parkinsons pelos palcos ingleses em “Long Way to Nowhere” onde, entre 2000 e 2003, revigoraram a cena 'punk' londrina.

A dispensarem maiores apresentações são Janis Joplin, que em “Janis: Little Girl Blue” é abordada por Amy Berg através da sua correspondência, e o lendário Jaco Pastorius, que tem a sua biografia definitiva com “Jaco”.