O documentário “António e Catarina”, de Cristina Hanes, exibido hoje no festival Doclisboa, retrata a evolução da relação da realizadora com um homem, 35 anos mais velho, que mal conheceu percebeu ser “uma personagem que não podia perder”.

“Quando o conheci percebi instantaneamente que ele seria uma personagem que eu não podia perder. O primeiro momento que nos vimos, como que parámos. Ficámos fascinados um com o outro, ainda antes de trocarmos palavras”, recordou Cristina Hanes, de 26 anos, em declarações à agência Lusa, a partir da Roménia, onde vive.

Cristina conheceu Augusto há três anos, quando estava em Lisboa a preparar um filme para o mestrado em Realização de Documentário.

Na altura, estava à procura de uma personagem, mas não ativamente. O encontro com Augusto aconteceu por acaso. “Estivemos a conhecer-nos durante um mês sem filmar. Criámos laços e então decidi fazer um filme com ele”, explicou.

No filme, Cristina Hanes tenta “representar a evolução da relação” com Augusto, que se desenvolve “em frente a uma câmara, num quarto”.

“Quando conheces alguém primeiro há um fascínio, depois começas a fazer perguntas e é assim que as coisas evoluem”, disse.

Ao longo do tempo, Augusto e Cristina, que no filme são António e Catarina, conversam sobre temas como a morte, o amor, a juventude e o desejo.

A ideia de assumirem outros nomes partiu dele: “Desde o início chamava-me Catarina, dizia que eu tinha cara de Catarina e continuou a chamar-me assim”.

António foi o nome que Augusto escolheu quando “vivia na rua e havia pessoas que não queria que soubessem o seu nome”.

“Além disso como estamos os dois como que a jogar um jogo achei que faria sentido termos nomes diferentes”, referiu Cristina Hanes.

“António e Catarina” foi filmado ao longo de três anos, quando Cristina se deslocava a Lisboa.

Depois de o filme terminado, os dois mantiveram o contacto, até Augusto morrer, em junho. “Um mês antes de ele morrer visitei-o em Lisboa, ele estava muito doente”, partilhou.

Augusto, que “foi professor uma parte da vida”, ainda teve oportunidade de ver uma versão do filme, de 30 minutos que Cristina Hanes fez para o mestrado, a que é exibida hoje no Doclisboa “já não conseguiu ver”.

“Riu-se muito, em algumas partes ficou chocado – ‘isto é como eu falo?’ -, disse que sou maluca”, recordou a realizadora.

“António e Catarina”, de produção portuguesa e com estreia nacional no Doclisboa, venceu em agosto a competição internacional de curtas-metragens no Festival de Locarno.

A realizadora estará em Lisboa para a estreia nacional do filme, hoje às 22:00 na sala Manoel de Oliveira do cinema São Jorge.

O filme, que está na Competição Portuguesa do festival, é exibido uma segunda vez no sábado, às 14:00 na sala 3 do mesmo cinema.

O Festival Internacional de Cinema DocLisboa começou na quinta-feira e termina no domingo.