Numa entrevista à agência Lusa, o realizador, que está em Guimarães a filmar aquela que será a sua terceira adaptação do escritor Branquinho da Fonseca, explicou que "Caminhos Magnéticos" não é um "filme de mensagem", embora admita que essa "camada" está presente, mas sim "poética", ao serviço de uma história pessoal que "pode ser generalizada".

Pelo "domínio da magia", o realizador criou um "teatro mental" dentro da cabeça de Raymond, personagem interpretada por Dominique Pinon, que junta àquele palco irreal a personagem de Ney Matogrosso, um "é que não é, mas vai sendo", um espírito que "leva" a personagem de Pinon à realidade, "uma ditadura democrática".

"Mais do que contar historias, o que eu gosto de fazer é filmes, e os filmes são muito mais do que contar histórias. São movimentações de cores, de personagens, cenários, todos ao serviço de uma história que foi baseada num conto do Branquinho da Fonseca ["Tragédia de D. Ramon"], explicou o realizador à Lusa.

Para Edgar Pêra, a longa-metragem retrata "alguém que se apercebe que o dinheiro não e tudo, no dia do casamento da sua filha com um homem maias velho, rico, e é toda uma noite de dúvidas, hesitações, consignações, que faz com que a sua consciência vá evoluindo e tenha outra perceção do mundo".

Apesar da conclusão que atravessa o filme, "o dinheiro não é tudo", Pêra não encara "Caminhos Magnéticos" como uma lição de vida: "Não acredito muito nos filmes propriamente de mensagem e todo e qualquer eventual substrato político que o filme tenha é isso mesmo, uma das camadas", salientou.

"A [camada] mais importante é a poética e a da própria arte do cinema, ao serviço de uma história que é muito pessoal, que pode ser generalizada", referiu.

Segundo o realizador, a "ideia é criar um universo totalmente artificial, no domínio da imaginação em que não existam limites realistas". Para isso, recorreu a filmagens em estúdio "com projeção de imagens para fazer este teatro mental dentro da cabeça do personagem".

Personagem essa interpretada por Dominique Pinon, "um francês que veio viver para Portugal, logo a seguir ao 25 de Abril, que assiste à transformação de uma sociedade em algo consumista, e é confrontado com um novo tipo de sociedade, um universo paralelo, mas que é cada vez mais real, a ditadura democrática".

Para o ator, Raymond é "um estrangeiro no país onde está, é um rebelde, vai revoltar-se contra a sua vida" e tudo se passa numa noite: "Noite em que vai tentar fugir ao casamento da sua filha e fugir a si mesmo", explicou à Lusa Dominique Pinon.

E é aqui que entra a personagem de Ney Matogrosso, um "espírito" chamado André.

"É um é, que não é mas vai sendo. Eu ainda não tenho uma noção exata do personagem como um todo. O que eu conheci dele, foi lendo. Achava que ele era um médium ‘trambiqueiro’, já descobri que ele 'não é', é outra coisa, que eu não descobri exatamente para onde caminha", confessou Ney Matogrosso.

O artista confessou ainda que, quando diz a mensagem de André, "o dinheiro não é tudo", acredita no que diz.

"Tudo bem, o dinheiro facilita viver mas não é o objetivo das pessoas; acumular dinheiro não pode ser o objetivo de vida de ninguém", afirmou.

No elenco de "Caminhos Magnéticos" participam, entre outros, Paulo Pires, Teresa Ovídio e Íris Cayatte.

O produtor é Rodrigo Areias, a direção de fotografia está a cargo de Jorge Quintela e o filme conta com a participação, na banda sonora, de artistas nacionais como Tó Trips, Jorge Prendas, Legendary Tigerman ou Bezegol.

"Caminhos Magnéticos" tem estreia prevista para 2018.