O cineasta italiano Ettore Scola, realizador de filmes como "Um Dia Inesquecível", "Tão Amigos Que Nós Éramos" ou "Feios, Porcos e Maus", morreu na terça-feira, em Roma, aos 84 anos.

Nascido em 1931, era considerado um dos últimos grandes mestres do cinema italiano, tendo assinado obras em que participaram atores como Marcello Mastroianni, Sophia Loren, Vittorio Gassman ou Nino Manfredi.

Também foi um dos cineastas italianos mais ligados a França e a vários atores, como Michel Simon, Jean-Louis Trintignant, Serge Reggiani, Fanny Ardant e Gérard Depardieu. Quinze dos seus filmes foram coproduções franco-italianas.

O chefe de governo italiano, Matteo Renzi, expressou a sua tristeza após a morte deste "maestro dotado de uma capacidade incrível e aguda para ler a Itália, a sua sociedade e as suas mudanças".

Segundo vários meios da imprensa italianos, que citaram fontes médicas, o "maestro" deu entrada no serviço de cirurgia cardíaca de um dos maiores hospitais da capital italiana, estando em coma desde domingo.

Realizador de mais de quatro dezenas de filmes, entre os quais documentários, Ettore Scola foi ainda autor de cerca de 80 histórias ou argumentos cinematográficos onde revelou ser um cronista minucioso, apaixonado e irónico da sociedade italiana, dos sombrios anos do fascismo até a crise de identidade dos primeiros anos do século XXI.

Nos seus filmes, frequentemente rodados em Roma, a sua cidade do coração, desenvolveu os temas que lhe eram caros, como a amizade, a família, sórdida ou burguesa, e a ambição social.

Scola começou a trabalhar no cinema a partir de 1950, escrevendo vários argumentos, entre eles "La Marcia su Roma" (1962) e "Os Monstros" (1963) para Dino Risi. A estreia como realizador acontece em 1964 com "Se permettete parliamo di donne" (1964), com a participação de Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni e Nino Manfredi.

"Ciúme, Ciúmes e Ciumentos" (1970) valeu a Mastroianni o prémio de melhor ator no Festival de Cannes, mas foi "Tão Amigos que Nós Éramos" (1974), em que Manfredi, Gassman e Stefano Satta Flores se apaixonavam pela deslumbrante Stefania Sandrelli, que foi o seu primeiro grande sucesso internacional, chegando a receber o César para Melhor Filme Estrangeiro.

Dois anos depois, Ettore Scola recebeu o prémio de realização em no Festival de Cannes por aquele que será o título mais conhecido do grande público, "Feios, Porcos e Maus", onde Manfredi interpretava um ex-operário que recebia um milhão de liras de indemnização após ter perdido um olho num acidente de trabalho e morava com a família sórdida numa barraca de um bairro degradado, numa existência dominada pelo egoísmo e avareza.

Em 1977, "Um Dia Inesquecível", nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, era uma produção mais política e de grande sensibilidade, em que Marcello Mastroianni e Sofia Loren descobrem um amor incipiente, mas impossível, tendo como pano de fundo o fascismo triunfante.

De facto, o realizador sempre foi ativista político, militando no Partido Comunista Italiano (PCI) e chegou mesmo a ministro da Cultura de um "gabinete sombra" formado em 1989 pelos dirigentes comunistas.

Outros títulos celebrados foram "O Terraço" (1980), prémio de argumento em Cannes, "O Baile" (1983) e "A Família" (1987), também nomeados para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, e "Che ora è?", distinguido com muitos prémios no Festival de Veneza.

Continuou a filmar nos anos 1990, mas com menor impacto fora de Itália e em 2011, desiludido com o rumo de uma indústria cinematográfica em que já não se reconhecia, colocou fim à carreira.

Ainda assim, dois anos mais tarde apresentou no Festival de Veneza "Que Estranho Chamar-se Federico", uma homenagem ao seu amigo, o realizador Federico Fellini e como o conheceu, quando, aos 16 anos, começou a colaborar numa revista satírica da época, "Marco Aurelio", primeiro como cartoonista e depois como jornalista que escrevia pequenos "quadros" da vida italiana.

Para além da sua juventude, o filme era também uma sentida evocação de um cinema que já não existia.