Trata-se da confirmação oficial que se esperava: a FBI acusou formalmente as autoridades da Coreia do Norte de terem um envolvimento direto no ataque informático aos servidores da Sony, que levou à publicação de milhares de informações confidenciais do estúdio e ao cancelamento da estreia do filme «Uma Entrevista de Loucos».

«As ações da Coreia do Norte tinham como objetivo provocar um prejuízo significativo a um negócio norte-americano e suprimir o direito de cidadãos americanos de de exprimirem livremente», divulgaram as autoridades em comunicado. «Tais atos de intimidação caem fora dos limites aceitáveis de comportamento de um Estado», acrescentaram.

Análises técnicas levadas a cabo na investigação determinaram ligações a software nocivo com origem na Coreia do Norte, incluindo algoritmos de encriptação.

Na quinta-feira, um porta-voz da Casa Branca tinha adiantado que os EUA iriam ponderar uma «resposta proporcional» se fosse determinado o envolvimento do país asiático no ataque informático, não excluíndo um ataque aos sistemas informáticos daquele país.

Recorde-se que a 24 de novembro, um grupo autointitulado Guardiões da Paz [Guardians of Peace], atacou a base de dados da Sony Pictures e começou a divulgar informações internas.

Na sequência de um aviso que ameaçava diretamente as salas e os espetadores que fossem ver a comédia com James Franco e Seth Rogen que retrata uma missão destinada a assassinar o líder da Coreia do Norte Kim Jung-un (Randall Park), as cinco principais cadeias de salas de cinema dos EUA decidiram cancelar a exibição. Logo a seguir, a Sony anunciou formalmente a retirada da estreia.

Sabe-se que a Sony enfrentou também pressões dos outros estúdios cujos filmes seriam prejudicados com a preocupação com a segurança dos espectadores pois o Natal é uma das temporadas mais lucrativas do ano.

A decisão da Sony pode representar dezenas de milhões de dólares de prejuízo após a campanha de marketing, mas extravasou o âmbito cinematográfico, tornando-se um debate político sobre as liberdades de expressão. Várias vozes na comunidade política e artística descrevem uma «capitulação» que cria um «precedente gravíssimo».

Numa mensagem enviada à Sony, o grupo Guardiões da Paz elogiou a «decisão inteligente» e ironicamente exige que «nunca lancem, distribuam ou deixem fugir o filme sob qualquer forma, por exemplo, em DVD ou pirataria» e detalha: «Queremos que tudo relacionado com o filme, incluindo os seus trailers, bem como a sua versão integral, fora de qualquer site que os tenha publicado imediatamente». E fica a ameaça no ar: «Ainda temos os vossos dados privados e sensíveis (...) garantiremos a segurança (...) a não ser que causem mais problemas».

Descubra em baixo outros filmes potencialmente «controversos» para a Coreia do Norte.

ACTUALIZAÇÃO (19h50): Na última conferência de imprensa do ano, previamente marcada, o presidente Barack Obama afirmou pensar que a Sony errou ao retirar «Uma Entrevista de Loucos».

«A Sony é uma empresa, sofreu danos significativos, existiram ameaças contra os seus empregados. Tenho simpatia pelas preocupações que enfrentaram. Dito isto, sim, acho que cometeram um erro [ao não estrear]. Não podemos ter uma sociedade em que um qualquer ditador em algum país pode começar a impor censura nos EUA. Se alguém pode intimidar pessoas para impedir a estreia de uma comédia satírica, imaginem o que farão quando virem um documentário ou filme político de que não gostem».

«Gostaria que tivessem falado primeiro comigo. Ter-lhes-ia dito para não se colocarem num padrão em que se é intimidado por esse tipo de ataques criminosos».

O presidente norte-americano confirmou ainda que será dada uma resposta que considere «proporcional e apropriada em relação à natureza deste crime».