"Uma Vida à Espera" conta a história de um homem que circula por Campo de Ourique a carregar uma caixa de correio... à espera que o carteiro lhe traga uma carta. O filme é protagonizado por Miguel Borges e passa no Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin).

Nesta conversa com o SAPO Mag, o realizador Sérgio Graciano, que pensa estrear nada menos que três filmes em 2017, contou a história do projeto e abordou o sempre incómodo tema da "incomunicabilidade" de um certo cinema português.

"Uma Vida à Espera" representa um desafio completamente diferente na sua carreira cinematográfica. "Assim Assim" era uma espécie de mosaico com um sabor 'indie', "Nijinga" uma narrativa mais épica com grandes valores de produção. Em "Uma Vida à Espera" você traz uma história radicalmente intimista, com um personagem principal e apenas alguns secundários...
Sim, é um filme assumidamente diferente, acho que vai mais de encontro ao  que gosto de contar. Gosto de histórias "pequenas", no sentido de se conseguir contar em duas linhas. No fundo é um filme simples mas nada simplista. Por um outro lado é bom experimentar géneros. Gosto de variar, gosto de sentir como é fazer um filme com ferramentas dramatúrgicas diferentes. O facto do elenco ser pequeno faz com que fiquemos muito mais próximos a trabalhar. Gosto de filmar em 'família' e foi isso que aconteceu com este filme.

De alguma forma foi o tema dos sem-abrigo que deu início à sua história? Ou isso veio depois?
Uma amiga atriz que morava na altura na Mouraria contou-me que havia um sem abrigo que pedia papéis e canetas na rua para escrever. Falei com o Frederico Pombares e ele desenhou toda esta história, baseada portanto em factos verídicos.

O filme gira quase todo em torno do personagem de Miguel Borges. Como foi a entrada dele no projeto e o trabalho com ele?
O projeto já tem uns anos. Falei com o Miguel sobre ele antes até de estar completamente escrito. O Miguel é um ator genial, dá sempre tudo pelo filme, acho que é uma dádiva poder trabalhar com ele. Aprendo sempre que nos cruzamos a trabalhar. O Miguel não tem limites, trabalha sempre no limite, para fazer este filme tinha de ser um ator assim. O Miguel é meu amigo e isso fez com que todo o trabalho fosse o mais natural possível. Aliás, o filme é ele!

De uma maneira mais geral, como vê o seu filme dentro do contexto do cinema português? Você sustenta a tese, por exemplo, de que é uma cinematografia que tem dificuldades em comunicar com o público.
Quero acreditar que contei uma história. Não sei onde se enquadra o filme, acho que se situa num meio-termo, num sítio onde quero que os meus filmes estejam. Gostava que, quando o filme terminasse na sala, as pessoas fossem para casa a falar dele. Era o melhor retorno que poderia ter. Acho que a dificuldade em comunicar está relacionada com a não preocupação em nada passar para quem vê. Acho fundamental que os filmes sejam subsidiados, mas também acho importante que quem recebe o dinheiro não se demita da responsabilidade de pensar em quem vai ver o filme. É um equilibro que existe pouco por cá.

Em termos de cinema, quais são seus próximos projetos?
Tenho três filmes para estrear este ano, são eles "Uma Vida à Espera", "Perdidos" e o "Protagonista". Em Setembro vou rodar a minha próxima longa.