Segundo a associação Apordoc, que organiza o seminário, a mostra, a decorrer até à próxima quinta-feira, vai apresentar os quatro filmes realizados por Ana Hatherly entre 1975 e 1977: “Revolução”, “Rotura” e “Diga-me, o que é a ciência?” (I e II), estes dois também conhecidos por “Camponeses” e “Operários", respetivamente, grupos a quem é colocada a pergunta do título.

A homenagem à artista plástica, escritora, ensaísta, tradutora e pedagoga Ana Hatherly, nome chave da poesia visual, realiza-se cerca de um ano após a sua morte, ocorrida a 05 de agosto de 2015, aos 86 anos, num hospital em Lisboa.

"Revolução", o filme selecionado para a Bienal de Veneza de 1976, onde foi estreado, retrata as paredes, murais e 'graffitis' das ruas de Lisboa, após o 25 de Abril de 1974.

"Diga-me, o que é a ciência? (I)" e "Diga-me, o que é a ciência? (II)" são dois títulos realizados para a Divisão de Educação Permanente do Ministério da Educação, nos quais a realizadora sobrepõe, à vez, as vozes de operários e camponeses, que falam sobre ciência.

"Rotura" regista uma intervenção de Hatherly, na galeria Quadrum, em Lisboa, em 1977, que contou com a participação do fotógrafo Jorge Molder.

Com estudos de cinema na London Film School, Hatherly dirigiu diversas curtas-metragens, dando origem a um corpo da sua obra menos conhecido do que o seu trabalho nos domínios da literatura e das artes plásticas.

"Exercícios de Animação", "Cut Silk Sand" e "Sopro 57-An-39" contam-se entre os filmes da autora de "Tisanas", "Rilkeana" e "Pavão negro", que participou na mostra histórica "Alternativa Zero", em 1977.

O Seminário Internacional sobre Cinema Documental Doc’s Kingdom, organizado pela associação Apordoc, também responsável pelo festival Doclisboa, tem este ano como tema “O fim da natureza”, inspirado na "ecologia visionária" do Padre Himalaya, nascido no município minhoto, onde a mostra se realiza.

Segundo os programadores, Aily Nash e Nuno Lisboa, esta edição "coloca a possibilidade de uma ecologia das imagens num mundo saturado" delas, com um grupo de cineastas que pratica "o cinema como arte subversiva, associando a seriedade e o humor, destruindo literalmente as imagens e as ideias feitas, explorando narrativas e ecologias alternativas”.

Leonor Teles, Urso de Ouro em Berlim, pela curta-metragem "Balada de um batráquio", o veterano filipino Kidlat Tahimik, a artista brasileira Ana Vaz, o canadiano Dominic Gagnon são nomes destacados pela organização, a par de Elizabeth Povinelli e John Paul Sniadecki (EUA), Juliane Henrich (Alemanha), Myriam Lefkowitz (França) e dos portugueses Raul Domingues e Luís Alves de Matos, autor de "A mão inteligente", documentário sobre Ana Hatherly, que toma por título a derradeira coletânea do obras da artista.

A programação do Doc’s Kingdom (reino do documentário) prevê a exibição de 30 filmes em 12 sessões que vão permanecer secretas até à entrada na sala: "O programa detalhado não é revelado previamente, mas sim e apenas a lista dos cineastas convidados", avisa a organização.

A sessão de abertura tem início hoje, às 21:30, na Casa das Artes de Arcos de Valdevez.

A partir de domingo, as sessões abrem às 10:00 e às 14:30, e são seguidas de debates com os realizadores.

Nuno Lisboa, diretor do Doc’s Kingdom, foi este ano escolhido como programador do seminário norte-americano Flaherty, que toma o nome do realizador Robert Flaherty, pioneiro do cinema documental, autor de “Nanook, o esquimó” (1922).