A classificação da revista especializada Screen e a imprensa alemã concentram as suas apostas para o Urso de Ouro do Festival de Berlim em "The Other Side of Hope" (O Outro Lado da Esperança, tradução livre), do finlandês Aki Kaurismaki, e "Una Mujer Fantástica" [Uma Mulher Fantástica, em tradução livre], do chileno Sebastián Lelio.

Resta saber a decisão do júri, presidido pelo cineasta holandês Paul Verhoeven ("Instinto Fatal", "Ela"), que será divulgada àa partir das 18h00, hora de Lisboa.

Dezoito filmes aspiram ao Urso de Ouro, assim como aos da Prata, que premiam o melhor ator e atriz, entre outras categorias.

Tradicionalmente militante, a Berlinale deste ano converteu-se num palco contra o protecionismo e o desejo de Donald Trump de restringir a entrada nos EUA.

"Vocês têm que saber que há muitas pessoas no meu país que estão dispostas a resistir", disse a atriz americana Maggie Gyllenhaal, que integra o júri.

"Temos que garantir que nos ligamos com todas as partes dos EUA que estão a resistir", disse por sua vez o ator mexicano e também membro do do júri Diego Luna, num ato de rejeição às barreiras, realizado simbolicamente diante do Muro de Berlim.

O espírito inconformista refletiu-se ainda em muitos filmes apresentados durante o Festival, que começou no dia 9.

"O Outro lado da Esperança", que obteve as melhores pontuações da crítica, narra o encontro entre Khaled, um refugiado sírio que está, contra a sua vontade, na fria Finlândia, e um homem que está divorciado da sua mulher alcoólica e que o ajudará.

O jornal britânico Daily Telegraph admirou este filme "maravilhoso e comovente" protagonizado pelo ator sírio Sherwan Haji.

O público continuará "a assistir a este filme por muito tempo após [o presidente sírio Bashar] al-Assad tiver entrado para a história", disse o alemão Die Welt.

No ano passado, o júri liderado por Meryl Streep recompensou "Fogo no Mar", que falava sobre os refugiados e os habitantes que os recebem diariamente na ilha italiana de Lampedusa, que está na corrida ao Óscar de Melhor Documentário.

Transexualidade

Quatro anos depois do seu filme "Gloria" levar o Urso de Prata de Melhor Atriz (Paulina Garcia), o chileno Sebastián Lelio volta a competir pelos maiores prémios da Berlinane com um retrato de uma mulher transexual, um hino à tolerância.

Recompensado com o prémio Teddy do festival, destinado aos filmes que se concentram na temática LGBT, "Uma Mulher Fantástica" conta a história de Marina, a quem o que a rodeia, condicionado pelo preconceito e ignorância, a impede de se despedir dignamente do seu parceiro Orlando, que morreu repentinamente.

"A intenção é pegar em alguém rejeitado pela sociedade e filmar essa pessoa da forma mais elegante e íntima possível. É um ato de amor cinematográfico", disse o realizador chileno, que vive em Berlim.

Marina é interpretada pela atriz transexual Daniela Vega e um eventual prémio de melhor atriz seria um acontecimento sem precedentes.