A propósito da estreia nas salas de cinema de «Fúria», sobre a ação de uma equipa que opera um tanque aliado no final da II Guerra Mundial, o SAPO Cinema falou com António Fragoeiro. Estudioso e proprietário de uma das mais importantes coleções de peças desse conflito bélico, produtor da série da internet «Ancient Castles and Fortresses» e viajante frequente pelos campos de batalha de época e memoriais relacionados, irá publicar em breve o livro ««Coberturas Militares da Segunda Guerra Mundial».

Até que ponto considera ser «Fúria» um filme realista na representação da guerra e das relações entre os soldados, dentro do contexto daquele estranho mês de abril de 1945?

António Fragoeiro (A.F.): Absolutamente brilhante e realístico. Creio que o «bootcamp» pelo qual os atores tiveram de passar, o contacto com os veteranos, a parceria com o Museu de Bovington, a utilização de uniformes originais, fazem de «Fúria» um dos melhores filmes que já vi.

E que partes considera serem mais «inspiradas por Hollywood»?

(A.F.): Teria que referir o confronto entre o Tiger alemão e o Fury, nenhum Sherman conseguiria aguentar tantos impactos do canhão de 88mm do Tiger. A batalha final também me pareceu um pouco exagerada.

Na história da Segunda Guerra Mundial, algum tanque teve um impacto como aquele que é atribuído ao «Fury»?

(A.F.): Sim, sem dúvida. Com as constantes melhorias e os avanços industriais de então, surgiram no campo de batalha quatro tanques que viriam a aterrorizar os seus respectivos opositores, o Sherman anti-tanque Firefly, os Alemães Tiger, Panther e King Tiger.

No início de «Fúria», somos informados que os tanques alemães são muito superiores aos das forças aliadas. Em que se baseava essa superioridade?

(A.F.): Sim, é verdade. As indústrias Alemãs de armamento primavam pela qualidade e precisão. O Sherman Americano era equipado com um canhão de 75mm ou de calibre inferior, não tendo capacidade para penetrar a armadura de um Tiger Alemão. A sua suspensão e blindagem também não eram da melhor qualidade. O mesmo era obrigado a aproximar-se do inimigo, tornando-se assim, um alvo fácil.

As forças aliadas alguma vez conseguiram equilibrar nesse capítulo específico?

(A.F.): Perto do final de Guerra, os Aliados já possuíam diversos tanques capazes de rivalizar com os melhores tanques Alemães.

As equipas dos tanques parecem ser formadas por 5 homens. Qual era a função de cada um?

(A.F.): O tamanho da tripulação variava muito consoante o tipo de tanque. No caso do Sherman, a tripulação era constituída por um comandante, artilheiro, assistente de artilheiro, condutor e um co-condutor, também responsável por operar a metralhadora de topo.

Entre os aspetos que mais chamam a atenção em «Fúria» estão a claustrofobia no tanque e a camaradagem entre os homens que formam a equipa. Até que ponto estes influenciavam a missão que tinham a desempenhar?

(A.F.): A moral e o espírito de ajuda entre os soldados foram aspetos muito importantes no esforço de guerra. A motivação era essencial para que os objetivos fossem atingidos e que no fim do dia, a batalha fosse ganha.

Em «Fúria», ficamos a saber que aquela equipa é a mesma desde as campanhas no norte de África. Em termos gerais, a importância do tanque variou ao longo do conflito? Em que momentos mais se destacou?

(A.F.): As viaturas blindadas desempenharam um papel extremamente importante no conflicto, especialmente em campo aberto. Os tanques foram desenvolvidos para providenciar apoio à infantaria e para um confronto frontal e em campo aberto.

Qual a importância da ação dos tanques na fase final da guerra, quando as forças aliadas enfrentavam cidade a cidade uma resistência fanática de desesperados?

(A.F.): Com a aproximação do final da guerra e os combates a decorrerem cada vez mais em ambientes citadinos, os tanques perderam parte da sua importância.

Uma das frases que não se esquecem em «Fúria» é quando os ocupantes do tanque dizem ser «o melhor emprego que já tiveram». Na realidade, a impressão que fica é que a mortalidade entre os que operavam os tanques era muito elevada...

(A.F.): Sem dúvida, a taxa de mortalidade de «tanquistas» foi das mais altas em todo o conflito. Apesar de ameaçador, os tanques de então apresentavam diversas vulnerabilidades. Má soldagem da armadura, rápido desgaste da suspensão, até uma pequena pedra era capaz de quebrar os elos de ligação das lagartas, contribuindo assim para a imobilização do veículo. Apelidados de caixões metálicos, os tanques da Segunda Guerra Mundial contribuíram para uma enorme perda de vidas em ambos os lados.

Ainda existem tanques operacionais da Segunda Guerra Mundial? Fomos informados que um Tiger 131 alemão, que aparece numa das cenas mais fortes, faz a sua «estreia cinematográfica», mas parece ser o único pois a maioria foi destruída ou não funciona.

(A.F.): Felizmente ainda existem bastantes tanques em condições funcionais. Contudo, o Tiger n° 131 é um caso especial. É o único Tiger I existente em todo o mundo que permanece a funcionar.

Para quem for ver «Fúria», a que pormenores ou cenas sugere que os espectadores prestem mais atenção?

(A.F.): De salientar os efeitos especiais, o som e a fantástica atenção que foi dada ao guarda roupa. Simplesmente brilhante.

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