A única dúvida a poucas horas da cerimónia dos Óscares parece ser esta: quantas estatuetas vai ganhar "La La Land: Melodia de Amor"? O filme soma tantas nomeações como "Titanic" (1997) e "Eva" (1950).

Serão 10, como apontam quase todas as previsões? Chegará às 11 e junta-se a "Ben-Hur" (1959), "Titanic" (1997) e "O Regresso do Rei" (2003) no grupo dos mais premiados de sempre? Ou alcança as 12 e torna-se o recordista em 89 edições dos prémios da Academia?

Melhor Filme, Realização (Damien Chazelle, que se tornará o mais jovem premiado de sempre), Atriz (Emma Stone), Banda Sonora, Canção ("City of Stars"), Direção Artística, Montagem e Mistura de Som dificilmente escaparão ao musical.

A seguir, é provável que se juntem Fotografia e Guarda-Roupa, embora também possam ser "desviados" para "Lion" e "Jackie".

E provavelmente perderá Ator Principal (Ryan Gosling), Argumento Original para "Manchester by the Sea" e Efeitos Sonoros para "O Herói de Hacksaw Ridge".

Com 14 nomeações, uma derrota seria um sismo comparável ao do momento na cerimónia de 2006, quando Jack Nicholson anunciou "Colisão" como o Melhor Filme e não "O Segredo de Brockback Mountain". Ou o de 1973, com "Cabaret, Adeus Berlim" a ganhar oito Óscares e acabar ultrapassado mesmo no fim por "O Padrinho", que ficou pelos três.

Dificilmente isso vai acontecer: "La La Land" ganhou os principais prémios da indústria menos os da fotografia e argumento, mas, acima de tudo, tem a seu favor ser uma comédia romântica sobre a concretização de sonhos com muita música, dança e... homenagens a Hollywood. Nem o facto de algumas vozes se terem feito ouvir nas últimas semanas, defendendo que é um filme simpático mas superficial, foi suficiente para criar polémica.

VEJA A LISTA COMPLETA DE NOMEADOS AOS ÓSCARES

A existir alguma surpresa, ela poderá vir de "Moonlight", que tem oito nomeações: a admiração que existe por este filme do cinema independente sobre a vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta seria suficiente para ganhar os principais Óscares em qualquer outro ano. Neste, a consolação serão provavelmente dois prémios: o de ator secundário para Mahershala Ali e o argumento adaptado.

Uma certeza ainda maior do que os Óscares de "La La Land" é a de que Viola Davis receberá finalmente a sua estatueta, como Melhor Atriz Secundária, mesmo sendo a protagonista em "Vedações".

Teremos, portanto, dois Óscares para atores negros um ano após a polémica do #OscarsSoWhite [Óscar tão branco]. E podem ser três: na corrida ao Óscar de Melhor Ator, a aposta em Casey Affleck ("Manchester by the Sea") parecia segura, mas fala-se cada vez mais no popular Denzel Washington ("Vedações"), que acumula as funções de realizador e protagonista e venceria assim o seu terceiro Óscar.

Para Melhor Atriz, alguns analistas acreditam que o prémio de Emma Stone não está tão seguro como se pensa, mesmo se parece incrível o filme ganhar tantos Óscares e deixar de fora um para a atriz à volta de quem foi construído. Se ganhar será uma história no mesmo espírito do filme, já que, aos 14 anos, Stone convenceu os pais a mudarem-se para Los Angeles para perseguir uma carreira na representação. Fala-se da possibilidade vitória principalmente da muito admirada Isabelle Huppert, mesmo se a francesa tem a desvantagem de "Ela" nem sequer ter sido nomeado para Melhor Filme Estrangeiro. Se porventura Meryl Streep - que este ano tem poucas hipóteses - vencesse, igualaria o recorde de quatro Óscares conquistados por Katherine Hepburn.

Veja o caminho da estatueta dourada até à noite dos Óscares:

Cinema e política

Se a entrega dos prémios pode ser monótona, o mesmo dificilmente acontecerá com (alguns) discursos: é muito provável que não se fiquem pelos agradecimentos e passem uma mensagem política.

Ao criticar Donald Trump ainda antes da tomada de posse no seu discurso nos Globos de Ouro em janeiro, Meryl Streep exprimiu, acima de tudo, o choque que a comunidade artística sofreu com os resultados das eleições presidenciais.

Este respondeu dizendo que ela era "sobrevalorizada" e as reações foram de incredulidade e a indignação perante um presidente a entrar em polémica com uma atriz. Nos Óscares, Streep está confirmada na lista de estrelas que vão subir ao palco para entregar prémios.

Mas foram as decisões do seu primeiro mês na Casa Branca, principalmente as relacionadas com a emigração, que calaram fundo em Hollywood.

As críticas têm vindo a subir de tom nas cerimónias de prémios das últimas semanas, bem como os apelos à importância de passar a mensagem que "nem todos nos EUA pensam como Trump".

Haverá maior palco para isso do que uma cerimónia televisiva vista por centenas de milhões de espectadores em todo o mundo?

Por tudo isto, os primeiros minutos de Jimmy Kimmel serão decisivos.

É que, além de prometer que não vai cantar nem dançar, o anfitrião da cerimónia confirmou que a nova realidade política será um dos temas do seu monólogo inicial.

Se as  piadas forem certeiras e bem recebidas, pode aliviar a pressão, mas se correr mal, podem multiplicar-se os momentos como o daquele célebre "Shame on you, Mr Bush" de Michael Moore em 2003...

A ausência de alguns nomeados de países abrangidos pelo bloqueio de Trump também tem dado que falar. O realizador iraniano Asghar Farhadi, que dirigiu "O Vendedor", estará ausente em protesto contra as medidas anti-imigração de Donald Trump e os capacetes brancos sírios também não irão à cerimónia. Muito se falou sobre Trump os proibir de entrar no país mas, no fim, os sírios da curta-metragem documental nomeada decidiram não ir por outra razão: "proteger o seu povo".

Trump vai ser certamente uma das "estrelas" da noite mas o próprio presidente dos EUA já fez saber, através do seu porta-voz, que não irá assistir à cerimónia.

Onde ver a cerimónia em Portugal 

A noite das estrelas do cinema arranca em Portugal às 22h30, com um especial do canal E! Entertainment em direto da passadeira vermelha dos Óscares. Ryan Seacrest e a Giuliana Rancic vão acompanhar a chegada dos nomeados e dos convidados ao Dolby Theatre.

O desfile das celebridades também pode ser acompanhado a partir da meia noite de domingo na SIC Caras. Além dos comentários a partir do estúdio, Carolina Patrocínio estará em direto do evento, em Los Angeles.

Já a cerimónia de entrega dos prémios da Sétima Arte arranca depois da uma da manhã, hora de Portugal. A 89ª edição Óscares será transmitida pela SIC (com comentários) e pela SIC Caras que, pelo terceiro ano consecutivo, transmite a gala na versão tal como é transmitida nos EUA, sem tradução ou comentários.

Até às 20h, prove que é um especialista da Sétima Arte e vote em quem acha que vai ganhar