(NOTÍCIA ATUALIZADA ÀS 17H30 COM COMUNICADO DA FAMÍLIA)

A demência forçou a reforma artística de Hou Hsiao-hsien, de 76 anos, considerado um dos maiores cineastas vivos.

Rumores sobre o estado de saúde circulavam há bastante tempo, mas a notícia de que o realizador de Taiwan não voltará a trabalhar foi apresentada como um facto pelo académico de cinema Tony Rayns durante a apresentação de uma sessão do seu filme "Tempo para Viver e Tempo para Morrer" (1985) no Garden Cinema de Londres esta segunda-feira.

Posteriormente, o IndieWire confirmou a informação junto de uma fonte próxima de Hou Hsiao-hsien e também do curador de cinema do Garden Cinema, George Crosthwait, que afirmou que “certamente não voltará a trabalhar”.

Após várias notícias na imprensa internacional nas últimas 24 horas,a família confirmou em comunicado a reforma após um diagnóstico da doença de Alzheimer.

Até há dois anos atrás, Hou Hsiao-hsien trabalhava em “On the Shulan River” ("No Rio Shulan”, em tradução literal, um projeto de longa gestação, mas agora o seu último filme deverá ser "A Assassina" (2015), considerado um dos melhores deste século.

A história sobre uma jovem raptada na infância por uma freira que a inicia nas artes marciais e a torna numa implacável assassina, regressando 13 anos mais tarde à terra natal para matar o primo, valeu-lhe o prémio de Melhor Realização no Festival de Cannes.

"A Assassina"

As notícias sobre o estado de saúde serão menos surpreendentes em Taiwan, onde o seu escritório fechara portas e a equipa fora dispensada.

Entre 18 filmes e quatro curtas (uma documental), Hou Hsiao-hsien é um nome incontornável da Nova Vaga de cinema que saiu de Taiwan para o resto do mundo a partir da década de 1980 juntamente com o falecido Edward Yang.

Entre os seus premiados filmes que costumam integrar as listas dos melhores de sempre dos cinéfilos destacam-se "A Cidade da Dor" (1989), Leão de Ouro do Festival de Veneza; "The Puppetmaster" (1993); “Flores de Xangai” (1998); "Millennium Mambo" (2001); e "Três Tempos" (2005).

Foi ainda esporadicamente ator, com destaque para o protagonista em "Taipei Story", obra-prima de Edward Yang.

Segundo a imprensa local, a família escreve que "antes do diagnóstico, ele contou-nos muitas vezes que descobriu que o seu amor pelo cinema se tornava cada vez mais puro… Ele agora voltou totalmente à vida familiar e está a descansar em paz.”

A declaração acrescenta com a referência que as suas obras “receberam no passado muito reconhecimento no país e no estrangeiro, e ele também deixou muitos clássicos. Não apenas ele não será esquecido nas torrentes do tempo, mas a sua atitude e o espírito em relação ao cinema também serão preservados pelos seus camaradas e fãs".

Ainda é referido que a sua produtora Sinomovie continuará a funcionar, mas sem fazer filmes.