O realizador
João Botelho inicia na segunda-feira a rodagem de
«Os Maias», «romance imenso e desmedido» de Eça de Queirós, um projeto que demorou dois anos a concretizar, num tempo em que «está tudo péssimo no cinema português».

Numa conferência de imprensa hoje em Lisboa, para apresentar o projeto, o produtor Alexandre Oliveira explicou que «Os Maias - (Alguns) episódios da vida romântica» é um filme «bastante ambicioso», que será feito com um orçamento de 1,5 milhões de euros.

João Botelho demorou dois anos para por de pé este projeto, do ponto de vista financeiro, transpondo para cinema o texto original de Eça de Queirós, «um romance muito atual», cheio de camadas, política, sociológica e «de intriga, muito radical».

«A ideia da repetição e do eterno retorno português está neste romance. Está também o fim das elites e o fim de Portugal. É um romance sobre uma família, mas está cheia de arquétipos, de representantes de grupos sociais. O cinismo é o mesmo. A demagogia dos políticos, a verborreia, o comportamento da elite portuguesa mantém-se», sustentou.

O realizador, que volta a unir a literatura portuguesa ao cinema, fez uma adaptação do romance de Eça como se fosse um libreto de uma ópera.

Isso irá traduzir-se, por exemplo, com grande parte da rodagem marcada para estúdio, com cenários feitos com telas gigantes, pintadas por João Queiroz, que recriarão exteriores de ruas em Lisboa, em particular no Chiado, para «recriar uma Lisboa de ópera», disse João Botelho.

Essas telas gigantes deverão ser utilizadas pela autarquia de Lisboa para o Museu da Cidade, numa recriação de Lisboa no século XIX.

O elenco, com 52 atores e mil figurantes, contará com Graciano Dias (Carlos da Maia), a atriz brasileira Maria Flor (Maria Eduarda), Pedro Inês (João da Ega), Pedro Lacerda (Thomaz d'Alencar), Hugo Mestre Amaro (Dâmaso Salcede), além de João Perry, Laura Soveral ou Rita Blanco.

O barítono Jorge Vaz de Carvalho fará a voz de Eça de Queirós, o narrador.

Além das cenas em estúdio, as dez semanas de rodagem do filme acontecerão ainda em Ponte de Lima e Cabeceiro de Basto, em palacetes e edifícios que permitirão recriar a época de finais do século XIX.

A produção contará com apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual, da RTP, da autarquia de Lisboa, do Montepio e do Brasil, país co-produtor.

O filme deverá estrear-se no circuito comercial em setembro de 2014 e, meses depois, será exibido em itinerância pelos auditórios municipais do país, com incidência junto do público estudantil, tal como João Botelho fez, de uma forma inovadora, com "Um filme do desassossego".

"Os Maias" terá ainda uma versão em série televisiva de quatro episódios a exibir na RTP, e estreia garantida no Brasil.

Esta produção acontece num tempo de adversidade para produtores e realizadores, que criticam um incumprimento da lei por parte dos operadores de televisão por subscrição, que ainda não pagaram uma taxa anual inscrita na legislação e que reverte para financiamento do setor.

O produtor Alexandre Oliveira culpou o primeiro-ministro, acusando-o de "completa indiferença" em relação ao setor.

"O que está em causa é o governo reagir. Se não querem ser os coveiros do cinema português, têm que perceber que não chega criar uma lei do cinema se depois nao têm vontade de a aplicar", afirmou.