"A Arquidiocese de Boston e o Vaticano tomaram alguns passos na direção certa, mas a maioria das vítimas que conheço acredita que a Igreja tem de fazer muito mais", disse o jornalista à Lusa.

"O Caso Spotlight" conta a história da investigação realizada pelo jornal "The Boston Globe", premiada com o Prémio Pulitzer, que revelou um enorme escândalo de pedofilia dentro da igreja católica e décadas de encobrimento aos mais altos níveis.

Rezendes é um dos jornalistas retratados no filme e o único jornalista que se mantém como investigador na unidade de investigação Spotlight, que dá o nome ao filme.

"Estou muito satisfeito com o filme e sinto-me especialmente grato por estar a dar ao trabalho da equipa Spotlight uma segunda vida, com uma audiência muito maior", explicou.

Depois do primeiro artigo publicado pelo jornal, que levou à resignação do cardeal de Boston, Bernard Shaw, o jornalista e os colegas assinaram mais de 600 artigos e denunciaram quase 250 clérigos.

No filme, a personagem de Rezendes é interpretada pelo ator Mark Ruffalo, que está nomeado para o Óscar de Melhor Ator Secundário por este papel.

O filme, que estreou esta semana em Portugal, recebeu ainda outras cinco nomeações (melhor filme, melhor realizador, melhor atriz secundária, melhor montagem e melhor argumento original).

Rezendes disse esperar "que as pessoas vão ver o filme e saiam da sala de cinema com mais respeito pelo jornalismo de investigação e com uma noção mais forte de que a atenção do público se deve manter focada na questão do abuso sexual por membros do clero".

O lusodescendente dedicou as últimas três décadas ao jornalismo de investigação, tendo escrito sobre os ataques do 11 de setembro, suicídios na prisão, serviços de saúde e o papel das doações monetárias nas eleições presidenciais.

"Comecei a trabalhar como jornalista de investigação ainda era estudante da Universidade de Boston. Voluntariei-me para um pequeno jornal ativista numa zona pobre de Boston, que não existe mais, e que se chamava East Boston Community News", lembrou.

Filho de pai açoriano, de São Miguel, Rezendes cresceu a comer comida portuguesa e a ouvir falar português, mas não aprendeu a língua e só visitou o país em 2003, para escrever um artigo para o seu jornal sobre a aldeia do avô, Água Retorta.

"Não aprendi muito português enquanto crescia porque a minha mãe era franco-canadiana. Mas o lado português da minha família foi, e ainda é, muito importante para mim", garantiu.