O mundo não deve abandonar a espiritualidade, apesar dos atuais "acontecimentos terríveis", afirmou, em Paris, Martin Scorsese, ao apresentar "Silêncio", talvez seu filme mais pessoal, que planeou realizar durante décadas.

Rodado em Taiwan, o filme baseia-se na obra histórica homónima do japonês Shusaku Endo e narra as dificuldades dos missionários jesuítas portugueses no Japão no século XVII.

Com "Silêncio", Scorsese, que se define como um católico não praticante, pretende "abrir um diálogo" com o espectador e mostrar "até que ponto a espiritualidade é parte integrante do ser humano", explicou à imprensa antes da antestreia que contou com muitas personalidades relevantes da sociedade francesa, nomeadamente Catherine Deneuve.

O premiado cineasta americano fez e desfez este filme na sua cabeça durante décadas, mudando, inclusive, o elenco, porque os atores "iam envelhecendo".

Convencer Hollywood tampouco foi fácil. Ele precisou ultrapassar "problemas financeiros e legais" e a recusa de "três ou quatro grandes atores" porque "a religião não fazia parte das suas vidas".

Um deles chegou a descartar o filme durante as filmagens do "O Lobo de Wall Street", protagonizado por Leonardo DiCaprio, embora Scorsese não tenha esclarecido de quem falava.

Em Hollywood são necessários "atores que atraiam dinheiro", mas, então, corre-se o risco de trabalhar com quem "não acredita no projeto", declarou o realizador de "Taxi Driver", "O Touro Enraivecido", "A Última Tentação de Cristo", "Tudo Bons Rapazes", entre outros.

Andrew Garfield, Adam Driver e Liam Neeson aceitaram o projeto.

Aos 74 anos, Scorsese assegurou que já "não tem nada a esconder", nem precisa "demonstrar que sabe utilizar uma câmara".

"Este filme é o que sou agora. Não sigo a moda", destacou o realizador que finalmente ganhou um Óscar com "The Departed: Entre Inimigos" em 2006.

"De alguma forma, este é o filme que mais se entrelaçou com a minha vida pessoal", admitiu.

Até mesmo a rodagem no meio natureza, que disse tê-lo feito descobrir, por exemplo, o som das marés, foi uma "experiência mística".

"Sou nova-iorquino, alérgico a tudo (...) e de repente encontrei-me no topo de uma montanha", explicou.

"Vimos do silêncio e é para lá que vamos. Deveríamos aprender a sentir-nos confortáveis com isso", disse, em alusão ao título do filme.

Em novembro, Scorsese apresentou "Silêncio" no Vaticano, logo após um encontro com o papa Francisco.

A antestreia portuguesa de "Silêncio".

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