Os seus filmes não ganhavam Óscares ou eram respeitados pelos críticos, mas soube fazer como poucos comédias românticas que enchiam a alma dos espectadores: Garry Marshall, o realizador de "Pretty Woman" e "O Diário da Princesa" morreu na terça-feira à tarde em Los Angeles, de complicações relacionadas com pneumonia.

Tinha 81 anos e recentemente sofrera uma trombose que o levava frequentemente aos hospitais. Dizia sempre que "É bom ser importante, é mais importante ser bom" e o seu talento e carácter gentil é destacado em todas as homenagens feitas pelas estrelas com quem trabalhou.

Nascido em Nova Iorque filho de um produtor e de uma professora de sapateado, era quase inevitável que o seu futuro passasse pelo entretenimento, pelo que depois de se licenciar em Jornalismo, começou a escrever piadas para comediantes e o lendário programa “The Tonight Show”.

Já em Hollywood, fez argumentos para séries como “The Dick Van Dyke Show” e “The Lucy Show”, antes de começar a criá-las: "The Odd Couple" (1970-74), adaptação da peça e filme de Neil Simon, "Happy Days" (1974-1984), "Laverne & Shirley" (1976-83), com a sua irmã Penny Marshall (e também futura realizadora, por exemplo de "Big") e "Mork & Mindy" (1978-82), que revelou o talento de Robin Williams, estão entre as mais populares e icónicas produções televisivas daquele tempo.

Em 1982 realiza o seu primeiro filme, "Young Doctors in Love / Jovens Médicos Apaixonados", uma sátira às 'soap operas' que se passavam em hospitais, mas o primeiro sucesso a sério foi "Flamingo Kid", dois anos mais tarde, com Matt Dillon.

Seguiram-se "Nada em Comum" (1986), com Tom Hanks e Jackie Gleason, "Pela Borda Fora" (1987), com Goldie Hawn e Kurt Russell, "Eternamente Amigas" (1988), com Bette Midler e Barbara Hershey, mas o maior sucesso da sua carreira chegou em 1990 com uma inesquecível história moderna da Gata Borralheira em que uma prostituta encontrava o seu príncipe encantado nas ruas de Beverly Hills: "Pretty Woman / Um Sonho de Mulher".

A comédia romântica tornou Julia Roberts uma estrela e relançou a carreira de Richard Gere, mas no elenco também estava Hector Elizondo como o gerente do hotel: Garry Marshall conheceu-o no início dos anos 1980 ao jogarem basquetebol e entrou em todos os seus filmes.

Em "Frankie e Johnny" (1991) dirige Al Pacino e Michelle Pfeiffer, mas os resultados nas bilheteiras não foram famosos. A tendência só mudou quando voltou a juntar Gere e Roberts, não numa sequela de "Pretty Woman", como tantos pediam, mas em "Noiva em Fuga" (1999).

Provavelmente o segundo filme pelo qual Marshall será mais recordado é "O Diário da Princesa" (2001), outra história de encantar sobre uma plebeia de São Francisco que descobre que é a princesa do reino de Genovia. Ao lado da realeza representada por Julie Andrews (a sua estrela preferida: 'Sabia representar, sabia cantar, diz palavrões com dicção perfeita') estava a revelação Anne Hathaway.

A sequela, "O Diário da Princesa: Noivado Real" (2004), também foi um êxito, mas o jackpot aconteceu com "Dia dos Namorados" em 2010, onde cruzava várias personagens e histórias num dia especial.

Era a síntese perfeita do seu cinema ligeiro cuja única pretensão era divertir o público durante duas horas e inevitavelmente repetiu a receita em "Ano Novo, Vida Nova!" (2011) e só não teve sucesso à terceira, com "Um Dia da Mãe" (2016), que acaba por ser o seu último filme, ficando por concretizar o desejo de fazer outra sequela de "O Diário da Princesa".

Para além do trabalho atrás das câmaras, Marshall também apareceu como ator secundário, nomeadamente em "Liga de Mulheres" (1992), dirigido pela irmã Penny. e ao longo de vários anos na serie "Murphy Brown", no papel do presidente do canal de televisão, que conseguia ser mais sarcástico do que a protagonista.

Os filmes de Garry Marshall.