Morreu José Manuel Castello-Lopes, uma das figuras incontornáveis da distribuição de cinema em Portugal durante sete décadas. Tinha 86 anos.
A notícia foi avançada pela Academia Portuguesa de Cinema, de que era membro honorário e o homenageara em 2013, e confirmada ao SAPO Mag por fonte da família.
Nascido em 1931 e desde sempre com gosto pelo cinema, entrou em 1955 para a Filmes Castello Lopes, o negócio do pai, José Castello-Lopes, um dos pioneiros do cinema português, que depois geriu com o irmão, o fotógrafo Gérard Castello-Lopes (falecido em 2011), transformando a empresa familiar naquela que foi, durante décadas, a mais relevante distribuidora cinematográfica em Portugal.
Poucos como ele sabiam tanto sobre o cinema e os seus bastidores, ou acompanharam as suas profundas transformações, tanto internacionais como portuguesas. Atravessou os tempos de ditadura, em que os filmes eram censurados, e passou da época das grandes salas para a dos multiplex, e assistiu à explosão do setor do vídeo.
Em 1968 esteve preso durante dois dias, nos calabouços da PIDE, a polícia política da ditadura, por causa da exibição de "O Samurai", de Jean-Pierre Melville, um momento que descreveu mais tarde como o "ápex" da sua carreira.
Em 2014, em entrevista ao semanário Expresso, disse que o momento mais feliz para o cinema foi o fim da censura - com a Revolução de Abril de 1974 - e a adesão maciça, no ano seguinte, de portugueses ao que era exibido nas salas.
Ao negócio também aliava uma cinefilia: para ele a sala de cinema era um templo e o grande ecrã "uma espécie de altar”, como recordou numa entrevista em 2012.
Fundada a 14 de junho de 1915, mas com ano oficial de nascimento 1916, quando à distribuição se juntou a exploração do Cinema Condes, a Filmes Castello Lopes (não confundir com a Castello Lopes Cinemas, cujo marca a Socorama comprou no final dos anos 90 para dar prestígio às salas), foi responsável pela estreia de milhares de filmes nas salas de cinema portuguesas, dos estúdios Columbia, MGM e Twentieth Century Fox, além de produção europeia, principalmente francesa, e mais tarde da produção independente norte-americana através da Miramax.
O logotipo, uma águia, e a fanfarra que a acompanhava, tornaram-se familiares para gerações de espectadores.
Entre os filmes mais emblemáticos que foram lançados pela Castello Lopes estão "Intolerância" (1915), "O Filho do Sheik" (1926), "A Severa" (1931), "Luzes da Cidade" (1932), "A Canção de Lisboa" (1933), "E Tudo o Vento Levou" (1939), "O Mundo a Seus Pés" (1941), "Roma, Cidade Aberta" (1946), "Fado, História d´ uma Cantadeira (1947) ,"O Acossado" (1959), "Blow Up" (1966), "O Samurai" (1967), "2001, Odisseia no Espaço" (1968), "A Guerra das Estrelas" (1977), "Cinema Paraíso" (1988, um dos seus preferidos) e "Titanic" (1997).
Em 1972, também começou a exploração do Cinema Londres, na avenida de Roma, encerrado em 2013. Já este século, a Filmes Castello Lopes, agora Castello Lopes Multimédia, foi vendida ao Grupo Prisa. Era a mais antiga distribuidora em atividade quando encerrou discretamente em 2011, alguns meses após perder os direitos de distribuição do catálogo da Fox.
Actualização (20h38): O funeral realiza-se no domingo, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da família. O velório tem início às 17:00 de sábado, na Basílica da Estrela, e o funeral realiza-se no dia seguinte a partir das 10:00, seguindo para o cemitério do Alto de São João.
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