Com papéis célebres em filmes como "Os Produtores", "Balbúrdia no Oeste" e "A Mulher de Vermelho", Gene Wilder tornou-se um dos grandes mestres do humor na Sétima Arte, especialmente ativo entre os anos 60 e 80, com parcerias emblemáticas com o realizador Mel Brooks e com o humorista Richard Pryor.

O humorista, cujo talento se estendia também à escrita, faleceu aos 83 anos na sua casa em Stamford, Connecticut, devido a complicações provocadas pela doença de Alzheimer.

Apesar do seu imenso talento para o humor, nada no início da carreira de Wilder fazia suspeitar que ele fosse especialmente talhado para a comédia: aluno do prestigiado Actor's Studio, em Nova Iorque, destacou-se nos anos 60 no teatro, em peças dramáticas como "Roots", de Arnold Wesker, "The Complaisant Lover", de Grahame Greene, e principalmente num papel de destaque em "Mãe Coragem e os seus Filhos", de Bertold Brecht, onde contracenaria com Anne Bancroft, que o apresentaria ao seu marido Mel Brooks.

Estreou-se no cinema pela porta grande em 1967, num papel secundário no enorme sucesso que foi "Bonnie e Clyde", mas a verdadeira viragem na sua vida deu-se no ano seguinte, quando protagonizou o filme que marcaria a estreia de Mel Brooks como realizador e que é hoje considerado como uma das melhores e mais desvairadas comédias da história do cinema: "The Producers", que em Portugal teve por título "O Falhado Amoroso".

Resultado: Wilder ganhou a eternidade no papel do neurótico contabilista Leo Bloom e foi nomeado ao Óscar de Melhor Ator Secundário (Zero Mostel era considerado o principal embora tivessem ambos o mesmo destaque na fita) e Brooks ganhou o Óscar de Melhor Argumento Original e viu lançada a sua carreira no cinema. Logo a seguir, voltaram a juntar-se em duas das comédias populares de sempre: "Balbúrdia no Oeste", em 1972, e "Frankenstein Jr", em 1974, que Wilder co-escreveu e que lhe valeu, com Brooks, a nomeação ao Óscar de Melhor Argumento Adaptado.

Entretanto, em 1971, Wilder teve outro dos papéis da sua vida como Willy Wonka, na primeira adaptação ao cinema do livro "Charlie e a Fábrica de Chocolate", de Roald Dahl, que por  cá se chamou "A Maravilhosa História de Charlie". Apesar de não ter sido um sucesso imediato, o filme tornou-se porventura o mais popular da sua carreira.

Os anos 70 foram a sua década de ouro: além das fitas referidas, em 1972 participou em "O ABC do Amor", de Woody Allen, em 1974 foi a raposa na versão que Stanley Donen fez de "O Principezinho", em 1975 estreou-se como realizador (mantendo-se como protagonista e argumentista) com a comédia "As Aventuras do Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes", e em 1979 trabalhou às ordens de Robert Aldrich e com um jovem Harrison Ford em "Desculpe, Onde Fica o Far West?".

Pelo meio ficou ainda uma segunda tentativa falhada na realização, com a divertida paródia a Rudolf Valentino que é "O Maior Amante do Mundo", que fracassou nas bilheteiras, mas teve um imenso sucesso popular com "O Expresso de Chicago", em 1976, em que forma dupla pela primeira vez com Richard Pryor.

Em 1980 e 1989 a dupla volta a juntar-se com grande êxito, em "Dois Amigos em Apuros" e "Cegos, Surdos e Loucos", com Sidney Poitier como realizador do primeiro filme. Este último voltaria a dirigi-lo dois anos depois em "O Casal Trapalhão", em que Wilder conheceria a humorista Gilda Radner, que se tornaria o grande amor da sua vida, e com quem casaria em 1984. A partir de então trabalhariam sempre juntos, nomeadamente nos dois filmes que Wilder realizaria e protagonizaria a seguir: "A Mulher de Vermelho", em 1984, que foi um grande sucesso internacional e valeu a Stevie Wonder o Óscar de Melhor Canção Original por "I Just Called to Say I Love You", e "Lua de Mel com Fantasmas", em 1986, que foi um rotundo flop.

Na viragem para os anos 90, a carreira de Wilder começou a desvanecer-se. O humorista voltou a juntar-se a Pryor em 1991 para uma última comédia, "Outra Vez Tu?", que fracassou entre o público e a crítica (não ajudou o estado muito visível de deterioração física deste último devido à esclerose múltipla) mas o golpe mais forte terá sido a morte de Gilda Radner em 1989 com um cancro nos ovários, diagnosticado três anos antes. A partir daí o ator dedicou cada vez menos tempo ao cinema e mais a atividades de consciencialização e luta contra a doença, ajudando a fundar o Gilda Radner Ovarian Cancer Detection Center, em Los Angeles, e o Gilda's Club, um centro de apoio para vítimas de cancro e seus familiares.

Em 1994, Wilder virou-se para a televisão como protagonista da comédia "Something Wilder", mas o esforço acabou por ser inglório e a série só teria uma temporada. Desde então então faria alguns telefilmes e teria participações curtas em séries de televisão, dedicando a maioria da sua energia criativa à escrita, assinando um livro de memórias, outro de contos e três romances, o mais recente dos quais em 2013.

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