Jonathan Demme, o cineasta iconoclasta de filmes como "Viúva Mas Não Muito", "Filadélfia" e "O Silêncio dos Inocentes", que lhe valeu o Óscar, morreu esta quarta-feira em Nova Iorque, cidade de muitos dos seus filmes, em consequência de um cancro e de problemas cardíacos. Tinha 73 anos.

"Posso confirmar que Jonathan faleceu esta manhã no seu apartamento em Manhattan, ao lado da sua esposa, Joanne Howard, e três filhos", afirmou o seu agente em comunicado.

O realizador e produtor, nascido em 1944, começou a alimentar a paixão pelo cinema na universidade, usando o trabalho como crítico para ver filmes de graça. Mais tarde, começou a trabalhar como publicitário para o produtor Joe E. Levine e depois como assessor de imprensa do famoso realizador e produtor de filmes 'série B' Roger Corman.

Foi este que lhe começou a dar oportunidades no cinema com a escrita de argumentos e mais tarde como produtor e realizador das segundas equipas dos filmes, a começar por "Angels hard as they come", em 1971.

A experiência numa dessas produções, "The Hot Box", sobre mulheres numa guerrilha nas Filipinas, levou-o a pedir a Corman para fazer um filme com mulheres: assim nasceu "Cage Heat", que em Portugal se chamou "A Gaiola das Tormentas" (1974), a sua estreia como realizador aos 30 anos.

Ainda inspirado pelo modelo de cinema de Corman (fazer muito com pouco dinheiro e em pouco tempo), fez de seguida um western, "O Vingador da Estrada" (1976) e o 'thriller' inspirado por Alfred Hitchcock "O Último Abraço" (1979).

É na década seguinte que o seu trabalho começa a ganhar reconhecimento, graças à comédia "Melvin e Howard" (1980), baseado na história verdadeira do encontro entre um operário e o homem a quem dá boleia até las Vegas, o milionário Howard Hughes. Não foi um sucesso comercial, mas despertou a atenção dos críticos e foi nomeado nomeado para três Óscares: Atriz Secundária (Mary Steenburgen) e Argumento Original, que ganhou, e ainda  Ator Secundário (Jason Roberts).

A passagem para o drama na Segunda Guerra Mundial chamado "Amor em Perigo" (1984) não corre bem, com várias desentendimentos com a estrela Goldie Hawn, ao contrário do filme-concerto dos Talking Heads , "Stop Making Sense" (1984), que surge sempre nas lista dos melhores documentários da história.

Este trabalho abriu uma nova fase na carreira no documentarismo, com filmes tão importantes no género como "Neil Young: Heart of Gold" (2006) e "Jimmy Carter Man from Plains" (2007) e à realização de vídeos de música e filmes-concertos para artistas como The Pretenders e New Order.

A música também ganha outra dimensão nos filmes de ficção que fez após "Stop Making Sense", a começar com "Selvagem e Perigosa" (1986), o seu primeiro sucesso internacional, arrancando uma das melhores interpretações de Melanie Griffith como a jovem rebelde que arrastava o 'yuppie' Jeff Daniels para uma grande aventura.

O filme seguinte é outro triunfo, a comédia "Viúva... Mas Não Muito" (1988), onde Michelle Pfeiffer era a viúva de um mafioso que tentava fugir à família apenas para ver o chefe da família, e o responsável pela morte do marido, a tentar conquistá-la, o que desperta as atenções tanto da ciumenta mulher como do FBI.

Em 1991, Jonathan Demme faz uma mudança surpreendente para o 'thriller' psicológico de terror com "O Silêncio dos Inocentes", polémico pela violência e a representação da transexualidade que acabou por conquistar os cinco Óscares principais: Melhor Filme, Realização, Argumento Adaptado e Atores principais, para os inesquecíveis Anthony Hopkins e Jodie Foster.

Seguiram-se "Filadélfia" (1993), com Tom Hanks e Denzel Washington, que valeu ao primeiro o Óscar e foi a primeira grande produção de Hollywood a abordar o tema da Sida, e "Amada" (1998), um fracasso com Oprah Winfrey que acabou por marcar a sua carreira.

Tentou a seguir uma aposta mais comercial com uma nova versão de "Charada" (1963), chamada "A Verdade sobre Charlie" (2002), com Mark Wahlberg e Thandie Newton, mas só volta a receber elogios com "O Candidato da Verdade" (2004), com Meryl Streep e Denzel Washington, e principalmente "O Casamento de Rachel" (2008), que valeu a Anne Hathaway a nomeação para os prémios da Academia.

"Ricki e os Flash" (2015), com Meryl Streep, sobre uma estrela rock em decadência a tentar fazer as pazes com a família, acabou por ser o seu último filme de ficção.

Jonathan Demme estendeu ainda o trabalho de produção para outros realizadores, nomeadamente com "Inadaptado" (2002), de Spike Jonze, e "A Canção de uma Vida", de Kate Barker-Froyland, que Jonathan Demme apresentou em 2015 na visita a Portugal a convite do festival Lisbon & Estoril Film Festival, que lhe dedicou uma homenagem.

Reações.

Nuno Markl.

Ron Howard: Jonathan Demme foi um grande artista, humanitário, ativista e colega encorajador caloroso. Conheci muito poucos como ele. Será sentida a sua falta.


Edgar Wright: Muito triste por saber do falecimento do grande Jonathan Demme. Admirava os seus filmes, os seus documentários, os seus filmes-concerto. Ele podia fazer tudo. 

Festival de Tribeca (Nova Iorque): "A oportunidade de fazer um filme que lida de forma imaginativa com aquilo que nos interessa tanto é uma verdadeira adrenalina.

Academia de Cinema Britânica: Estamos entretecidos por tomar conhecimento que morreu o realizador nomeado para os BAFTA Jonathan Demme

Elijah Wood. Entristecido por saber que faleceu Jonathan Demme.

 

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