O terror toma conta de Lisboa a partir desta terça-feira: com uma programação que engloba uma centena de títulos e 74 sessões, o MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa espalha-se por vários espaços da capital – entre os quais o cinema São Jorge, o Teatro Tivoli, a Cinemateca Portuguesa, a Cinemateca Júnior e o Museu Berardo (CCB).

O festival tem duas sessões competitivas – uma que destaca a Melhor Longa de Terror Europeia 2017 – e a outra que abrange as curtas-metragens nacionais. O SAPO Mag conversou com um dos diretores, João Monteiro, para estabelecer alguns dos principais destaques da edição de 2017.

De volta aos 90 e o filme do “palhaço”

Com um filme de encerramento que conta já com uma forte apelo na comunicação social, o festival aproveitou para escolher uma produção independente para a sua abertura e mostrar uma obra ainda desconhecida do grande público.

Segundo Monteiro, “Super Dark Times” traz uma espécie de retorno aos anos 90, época de 'walkmens', 'disc-mans' e telefones analógicos. É neste período onde a tecnologia não parecia dominar todo o planeta que se desenvolve uma história de perda de adolescência e uma traumática passagem para a vida adulta.

“Foi um filme por vezes comparado a ‘Donnie Darko’”, diz Monteiro, “mas não tem sobrenatural, penso que talvez evoque mais o ambiente. Estamos bastante contentes com a escolha e até vamos conseguir exibi-lo duas vezes”.

Quanto a “It”, obra de Andy Muschietti, realizador de “Mamã”, que encerra o festival, já não há muito a acrescentar depois do trailer ter andado a bater recordes e a exposição na imprensa ter sido considerável. Resta saber o que reserva um filme baseado numa série televisiva dos anos 90, por sua vez inspirada em Stephen King, onde o palhaço Pennywise aterrorizava uma cidade.

Monstros sagrados

Maiores apresentações também dispensam Roger Corman e Alejandro Jodorowsky, os convidados especiais desta edição.

Corman, o rei dos “b-movies”, teve o auge da sua produção como realizador nos anos 60 e, no caso do cinema de terror, particularmente com o ciclo baseado em Edgar Allan Poe. Entre outros atributos, é conhecido pela sua vitalidade: o diretor do MOTELx relata que, apesar de já contar com 91 anos, o produtor e realizador já tinha a agenda preenchida por um ano!

O festival vai recordar um dos momentos mais insólitos e menos conhecidos da sua carreira, “X: O Homem com Raios X nos Olhos”, de 1963, com Ray Milland a viver uma estranha história de 'super poderes'; para completar, um dos pontos mais altos da carreira: “A Máscara da Morte Vermelha” (1964).

Já o cineasta chileno deixou a sua marca na história do cinema nos anos 70 com obras como “Santa Sangre” e “El Topo”, ambas a serem exibidas no São Jorge.

“Jodorowsky trabalhou num ponto muito importante dos filmes de terror que é o surrealismo. Ele acrescenta a isto um lado psicanalítico, práticas xamânicas e mais uma quantidade de elementos viscerais. Ele inspirou cineastas como David Lynch, por exemplo", recorda Monteiro.

Serviço de quarto: das passarelas vermelhas à “América de Trump”

A programação é vasta. A maior sessão do festival, Serviço de Quarto, apresenta 33 filmes. Os grandes certames internacionais, como Sundance, Berlim, Cannes e Veneza, foram o ponto de partida para a carreira internacional de alguns destes projetos.

Destacam-se obras como “El Bar”, onde Álex de la Iglesia apresenta um filme de cerco onde o humor não atenua uma crítica social mordaz; “Berlin Syndrome”, um belo exercício de Cate Shortland (“Lore”) em torno de um rapto, a distopia 'splatter' “The Bad Batch”, ou o “mega hit” sul-coreano de zombies, “Train to Busan”.

A Austrália comparece com vários títulos, entre os quais dramas na floresta (“Killing Ground”) ou no subúrbio (“Hounds of Love”).

Dos asiáticos, Monteiro destaca o filipino “Bliss”, 'um filme fantástico', e “KFC”, obra vietnamita sem relação direta com a cadeia alimentar do mesmo nome, mas a ver com a cultura do 'fast food'. Já do Japão vem a “banhada de sangue' “Meatball Machine Koduka”.

Destaque ainda para obras como “My Friend Dahmer” ('um filme perturbador'), “Dave Made a Maze” ('inventivo') e “Playground” ('chocante ao extremo').

“Há outra coisa que é curiosa”, observa este diretor do MOTELx: “De repente, todos os filmes dos EUA agora são referidos como ‘um retrato da América da Trump’ apesar de terem sido feitos antes.

“Agora podemos tirar essa ligação de qualquer filme de terror, todos os que tiverem um personagem completamente doentio, por exemplo”, acrescenta.

Exemplo disso é o caso de “Kuso”, uma colagem surrealista que já foi batizada de 'o filme mais nojento já exibido em Cannes'; de “Lowlife”, que pode ser colado às recentes manifestações neonazis nos EUA; ou “Happy Hunting”, uma piada feita em cima das suas promessas de campanha.

Filmes (quase) perdidos: da “Boca do Lixo” à Península Ibérica

Anualmente um dos maiores esforços da organização é resgatar momentos aparentemente perdidos da “exploitation” portuguesa.

Para não variar, os três projetos deste ano são raríssimos. “Excitação”, filme de 1976, traz uma inserção do cineasta português Jean Garrett numa zona da cidade de São Paulo (Brasil) conhecida como Boca do Lixo. Da má fama veio uma intensa produção audiovisual… 

Por sua vez, de terras ibéricas vêm duas coproduções Portugal/Espanha – “O Espírita” (1976), reunindo erotismo e sobrenatural e "Crimes de Amor" (1971), união de melodrama com temas góticos.

De terras ibéricas vêm duas coproduções Portugal/Espanha – “Crimes de Amor”, rara mistura de melodrama com terrores góticos em Portugal, e “O Espírita” – projeto cuja raridade obrigou o festival a exibi-lo numa cópia em VHS, a única encontrada… O filme une terror sobrenatural e erotismo.

A programação completa do Motelx, incluindo as suas várias atividades paralelas, podem ser encontradas no 'site' do festival.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.