"'Spotlight' foi uma celebração de um ofício. Não é só um grupo de pessoas a fazerem o seu trabalho e a fazerem-no bem, mas todo o processo doloroso. Há muitos especialistas online, mas não fizeram nenhuma investigação, nenhum trabalho, não entrevistaram ninguém, estão apenas a por coisas online. É por isso que temos de pagar a verdadeiros jornalistas, com experiência para fazerem o seu trabalho", afirmou durante uma 'masterclass' no I Festival Internacional de Cinema de Macau.

O filme, sobre uma equipa de jornalistas do Boston Globe que revela abusos sexuais a crianças pela igreja católica, não foi a primeira experiência de McCarthy com o mundo da imprensa: em 2008 participou na série televisiva de David Simon "The Wire", onde interpretou Scott Templeton, um jornalista de ética duvidosa.

"David Simon foi jornalista durante 15 anos, adorava a redação, adorava jornais, adorava o poder da imprensa, tinha grande respeito pelo que representava. A sua paixão pela imprensa era tão contagiosa que, apesar de nunca ter pensado revisitar [o tema] com o meu próprio trabalho, quando o fiz usei muito do que fiz com o David e da forma como ele falava sobre isso", recordou o realizador.

Foi daí que surgiu o seu respeito pela classe: "É uma vocação, [os jornalistas] não enriquecem, a maioria não fica famoso, não tem filmes feitos sobre eles. Mas é algo no seu ADN, têm de saber a verdade, têm de a descobrir. Acho que isso é incrivelmente nobre".

Apesar da atual crise em torno dos 'media', McCarthy acredita que ainda "há espaço" para bom jornalismo, que tenha o impacto que a história verídica do Boston Globe teve em 2002, e considera que a crítica que "poderosos" - numa referência que abrangeu Donald Trump - lançam aos 'media' vem comprovar o seu papel vital.

"Quando temos líderes políticos, Presidentes eleitos, a dizerem à maioria do país 'Não acreditem neste jornal, é mau, é mau, é mau', (isso acontece) porque as pessoas poderosas não querem ser escrutinadas. Sempre foi assim", afirmou.

O realizou apelou ao envolvimento do público, que deve selecionar a informação que consome.

"Nós, os cidadãos, temos mesmo de trabalhar para perceber o que anda aí, não podemos ser preguiçosos. Temos de fazer a nossa parte e não acho que estamos a fazê-lo. Se a imprensa pode ter impacto? Tenho de acreditar que sim, porque precisamos disso", disse.

Durante a 'masterclass' McCarthy falou também sobre o seu filme "O Visitante", de 2007, sobre um professor universitário, viúvo e solitário, cuja vida, por acidente, se cruza com a de um casal de imigrantes ilegais.

"Foi quase um filme à frente do seu tempo, quando não estávamos a ter essa discussão (sobre imigração). Agora estamos e não somos só nós (norte-americanos), são todos os países. Espero que o filme nos lembre que o que não podemos perder, por entre o medo e a discussão e enquanto tentamos encontrar uma solução, que é a nossa humanidade", sublinhou.

Olhando para "O Caso Spotlight" e "O Visitante", o realizador disse acreditar que o cinema e a televisão têm o poder de "de abrir uma discussão".

"Quando fazemos um filme que tem um tema ou mensagem política, há um momento em que começamos a falar disso. Há um enorme espetro de filmes políticos e sociais e todos têm diferentes abordagens. Nos meus, acho que é tentar encontrar a humanidade", indicou.

McCarthy falou ainda sobre as crescentes dificuldades da indústria, onde proliferam os filmes de super-heróis.

"O mercado está a encolher, é cada vez mais difícil. Não posso culpar ninguém por fazer filmes da Marvel, todos os atores que conheço estão num [filme desses]. Neste momento, toda a gente que conheço é um super-herói. Não tenho ressentimentos em relação a isso. Mas espero que possamos continuar a fazer filmes que tenham um pouco mais de complexidade adulta", apelou.

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