«O Conto da Princesa Kaguya» é uma pérola da animação de Isao Takahata. Mais uma a chegar aos ecrãs nacionais após a estreia do belíssimo «As Asas do Vento», de Hayao Miyazaki. São rebentos da mesma colheita, o estúdio nipónico Ghibli, fábrica de fantasia fundada por ambos e nomeados para o Óscar de Melhor Animação.

Embora Isao Takahata não seja tão prolífico quanto Miyazaki, em termos de longas-metragens, os espectadores mais velhos certamente lembram-se da sua referência maior entre nós, a série de animação «Heidi».

Curiosamente, «O Conto da Princesa Kaguya» partilha alguns temas com esta, na natureza intrínseca das personagens, se preferirem na psicologia das mesmas: aborda-se a história de duas jovens que saem do seu ambiente natural, na montanha, para a vida na cidade, sem estas conseguirem cortar a ligação umbilical à simplicidade e à beleza da natureza em estado puro.

Aqui trata-se de uma história do crescimento de uma jovem especial que, após a sua descoberta - a “princesa” nasce no interior de uma cana de bambu -, evolui miraculosamente no seio de um casal de idosos que a criam como sua filha e tratam-na literalmente como uma princesa, afinal a ambição de tantos pais pelo mundo fora.

É um dilema tão eterno quanto a vida, a educação dos filhos que merecem tudo de melhor versus a tentativa de controlar a sua natureza. Neste caso, a bela princesa, a jovem que desceu dos céus para encantar o mundo, nasceu para ser livre e viver entre a fauna e a flora, resistindo à educação tradicional e às regras tradicionais de matrimónio, mantendo assim imaculada a sua magia.

A animação esteve em gestação durante 55 anos, quando era jovem, Isao Takahata trabalhava no estúdio Toei Animation sob as ordens de Tomu Uchida, um dos grandes realizadores da altura, que se baseou no conto tradicional de «The Tale of the Bamboo Cutter» um projecto que nunca saiu do papel. A ideia ficou e após grande insistência dos produtores desta obra, sobretudo da Nippon Television Network, no início dos anos 2000 iniciou-se a produção, que durou oito anos.

Juntaram-se ao projecto Kazuo Oga, o director de arte do filme de culto «A Princesa Mononoke», e Joe Hisaishi, o habitual compositor de Hayao Miyazaki (compôs nove filmes do mestre japonês). A conjugação de vários artistas resultou numa obra de uma beleza ímpar, uma animação que é uma pintura fluída, suave e sem regras convencionais.

Aos 78 anos, Isao Takahata realizou uma obra singular na animação moderna, uma celebração da humanidade, da natureza e do amor pelas coisas simples da vida.

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JORGE PINTO


REVISTA METROPOLIS

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