A controvérsia sobre o filme "Okja", do sul-coreano Bong Joon-ho, o primeiro da Netflix a disputar a Palma de Ouro, ofuscou a sua estreia esta sexta-feira em Cannes, mas não impediu os aplausos.

Na aguardada primeira exibição, no Grande Teatro Lumière do Palácio de Festivais, surgiram alguns apupos quando o logotipo vermelho da Netflix - que decidiu não exibir o filme nas salas de cinema francesas -, apareceu no ecrã e aumentaram quando os presentes se aperceberam dos problemas técnicos com o formato errado, que forçaram a interromper a sessão ao fim de sete minutos.

No final da exibição para a imprensa, os críticos aplaudiram a história da amizade entre uma menina e um animal insólito, geneticamente modificado, que uma multinacional deseja capturar. A mensagem principal é um apelo contra os maus-tratos dos animais e os métodos selvagens das grandes empresas.

Questionado sobre o incidente durante a conferência de imprensa, o realizador Bong Joon-Ho minimizou o facto.

"Acontecem sempre problemas técnicos nos festivais, estou muito feliz porque vocês assistiram às primeiras cenas duas vezes", garantiu.

O cineasta também evitou entrar em confronto com o presidente do júri desta edição do festival, o espanhol Pedro Almodóvar, para quem "seria um enorme paradoxo" que a Palma de Ouro ou qualquer outro prémio fosse entregue a um filme não pode ser visto nas salas de cinema.

"Almodóvar pode dizer o que quiser. Estou feliz por ter meu filme aqui. Sou um fã de Pedro e quer fale bem ou mal [do filme] já me sinto homenageado", declarou.

A atriz britânica Tilda Swinton, que interpreta a ambiciosa presidente da multinacional, comentou que as afirmações do realizador espanhol "comprometeram" as possibilidades de "Okja" estar entre os premiados, mas ao mesmo tempo defendeu o direito de Almodóvar falar "o que quiser" e que "não viemos aqui pelos prémios".

“Milhares de filmes são exibidos em Cannes que as pessoas nunca vêem nos cinemas. A Netflix deu ao Bong Joon-Ho a oportunidade de tornar a sua visão libertadora uma realidade e por isso estou grata", acrescentou.

Um filme polémico, mas feito com total liberdade

A plataforma americana enfrenta a revolta dos defensores das salas de cinema desde o anúncio da seleção de "Okja" e de outro filme produzido pela Netflix - "The Meyerowitz Stories", do americano Noah Baumbach, que será exibido domingo -, para a mostra oficial de Cannes.

A gigante do streaming, que tem 100 milhões de assinantes, não pretende exibir os filmes nas salas de cinema francesas. A situação provocou irritação entre os puristas da Sétima Arte e o circuito exibidor francês.

Pressionados, os organizadores do festival mudaram as regras para exigir, a partir de 2018, que todos os filmes na disputa pela Palma de Ouro se comprometam a ser exibidos nas salas francesas.

O presidente da Netflix, Reed Hastings, escreveu no Facebook na semana passada, em plena polémica, que "Okja" é "um filme incrível, cuja participação na competição de Cannes as salas de cinema querem impedir".

Ao falar sobre o financiamento do filme, que custou 50 milhões de dólares, Bong Joon-Ho afirmou que a Netflix contribuiu com um "orçamento importante e uma liberdade total em todas as fases da rodagem e da montagem".

"Respeitaram meu trabalho", disse.

Além da camaleónica Swinton, o elenco tem ainda os americanos Jake Gyllenhaal e Paul Dano, e a britânica Lily Collins nos principais papéis. A jovem Seo-Hyun Ahn interpreta com brio a jovem protagonista.

A história decorre entre a Coreia do Sul e Nova Iorque.

Na questão técnica, para criar as imagens do insólito animal, que tem uma aparência surpreendente, foram utilizados "vários atributos procedentes de animais reais", afirmou o especialista de efeitos visuais Erik-Jan de Boer.

"Observamos porcos e hipopótamos e utilizámos estas informações para tornar Okja o mais hiper-realista possível", explicou.

A estreia mundial na Netflix será a 28 de junho.

Trailer legendado.