Quando uma nova estrela é descerrada no Passeio da Fama, a cerimónia é preparada para transmitir o glamour que estamos habituados a associar a Hollywood: a pessoa homenageada faz um discurso e posa para as fotografias, alguns amigos e colegas juntam-se à ocasião, que é registada por jornalistas e turistas.

Da mesma forma, quando morre um dos homenageados, os seus admiradores correm para colocar flores e velas à volta da sua estrela, um momento invariavelmente fotografado e filmado de forma mórbida pelos media americanos.

No entanto, no intervalo entre estes dois momentos, quando as luzes se apagam e as pessoas passeiam pelo pavimento, surge uma realidade desagradável: um quinto das mais de 2500 estrelas estão degradadas.

As contas são do The Hollywood Reporter (THR) e não foram desmentidas por representantes da Câmara de Comércio de Hollywood, entidade responsável pela atribuição das estrelas e gestão de um marco da cidade de Los Angeles que todos os anos atrai mais de 10 milhões de turistas.

Os danos, regista o THR, vão desde fendas menores (Charlie Chaplin, Aaron Spelling, Aretha Franklin) a incrustações de bronze partidas (Al Jolson, Chris Rock, Edith Head) e rachas profundas (Irving Thalberg, Myrna Loy, Paul Rudd).

Entre as estrelas em pior estado estão por exemplo as de Cecil B. DeMille, Ginger Rogers, Neil Diamond, Lucille Ball e Billy Wilder.

A decadência está a gerar desagrado porque a Câmara de Comércio consegue anualmente cerca de um milhão de dólares em receitas associadas à exploração do Passeio, nomeadamente da venda de produtos nas lojas de recordações com o nome das 170 estrelas que concordaram em ceder o seu nome precisamente para gerar receitas que permitissem a manutenção do Passeio.

Além disso, as cerca de duas dezenas de estrelas que são adicionadas todos os anos são acompanhadas de donativos de várias entidades.

A degradação não é nada de novo: durante anos, a família de Michael Landon, falecido em 1991, ficou consternada pela inação para restaurar a estrela do ator de "Bonanza" e "Uma Casa na Pradaria", danificada por causa das raízes de uma árvore próxima.

Ainda assim, o tema ganhou nova visibilidade depois da estrela de Donald Trump ser vandalizada a 27 de outubro, num episódio que chamou a atenção da imprensa internacional: como nota o THR, a reparação foi imediata.

"É preocupante", nota Terry Moore, uma atriz de 87 anos que nomeada para os Óscares por "A Cruz da Minha Vida" em 1952. "Nós fizemos por merecer as nossas estrelas".

"Se fosse membro da Câmara de Comércio, esperava ficar incomodado", acrescentou Don Murray, da mesma idade e que fez a estreia no cinema ao lado de Marilyn Monroe em "Paragem de Autocarro" (1956).

A antiga estrela juvenil dos anos 50 Tab Hunter, agora com 85 anos, também aponta o dedo à mesma entidade. "O Passeio da Fama é uma marca registada deles. Devem estar cheios de dinheiro. Pergunto-me o que andam a fazer com ele".

Jeff Briggs, membro do Hollywood Historic Trust, o fundo da Câmara do Comércio destinado aos reparos, reconhece que parte do dinheiro é gasto de "formas consistentes com a missão" do Passeio, nomeadamente as iluminações nas temporadas festivas.

No entanto, todos reconhecem que "existe uma expectativa de que os monumentos histórias e culturais recebam a manutenção apropriada", como referiu um responsável municipal.