Contactado pela agência Lusa, o representante dos proprietários afirmou hoje que deu instruções para que se avancem com as obras no antigo cinema, depois de quase três meses de interrupção. A decisão é tomada dias depois de os proprietários terem sabido pela comunicação social que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) deu autorização de afetação do recinto para «atividade de natureza distinta», ou seja o antigo cinema não está obrigado, a partir de agora, a ter exibição cinematográfica.

«Os proprietários requereram a desafetação de atividade a 17 de fevereiro e ficam a saber da decisão pelos jornais. Não obtivemos qualquer resposta por parte da secretaria de Estado da Cultura. Não sei de nada oficialmente. Institucionalmente isto é um escândalo», disse o representante dos proprietários.

O cinema Londres está encerrado desde 2013, depois de a exibidora Socorama ter declarado falência, e os proprietários assinaram contrato para a abertura de uma loja.

As obras de transformação foram iniciadas sem autorização (obrigatória por lei) de desafetação da atividade cinematográfica, por parte do Governo e acabaram por ser suspensas em fevereiro. No fim-de-semana passado, o movimento de comerciantes do bairro onde funcionava o cinema revelou que a SEC tinha autorizado a mudança de atividade.

Na decisão, a SEC alerta que «a desafetação assim decidida não implica necessariamente a subsequente alteração do uso do espaço, sendo que essa avaliação compete, nos termos legais, à Câmara Municipal de Lisboa».

Para os proprietários, não há mais nada que impeça as obras, alegando terem documentação da autarquia a dar aval à realização de obras «meramente interiores, não suscetíveis de embargo».

O caso da transformação do cinema Londres nuna loja suscitou polémica no final do ano passado, levando o movimento MaisLisboa a lançar uma petição pública - «Salvem o Cinema Londres» -, que chegou ao parlamento, propondo um modelo cooperativo, sem fins lucrativos, para gerir o espaço. Em paralelo, o movimento dos comerciantes do bairro avançou com uma outra petição - que foi aprovada por unanimidade pela assembleia municipal - propondo também um projeto cultural e comercial.

Na justificação para a desafetação, a tutela afirma que «até à data não foi encontrada qualquer solução que permita manter o recinto afeto à atividade cinematográfica nem houve a materialização de qualquer evidência ou sinal de investimento efetivo e demonstrado com base no modelo proposto».

O cinema Londres, uma das últimas salas em Lisboa a existir fora de centros comerciais, foi inaugurado a 30 de janeiro de 1972, tendo uma área com mais de mil metros quadrados.