A programação do festival de cinema de Toronto, que decorrerá de 5 a 15 de setembro, dá conta da presença da longa-metragem
«Bobô» (na imagem), de
Inês Oliveira, na estreia internacional do filme, depois de ter competido no festival IndieLisboa. «Bobô», primeira ficção portuguesa a retratar o tema da mutilação genital feminina, conta a história da relação entre duas mulheres, Sofia, portuguesa, e Mariama, guineense, com diferentes «maneiras de estar no mundo».

Quando o filme passou no IndieLisboa, Inês Oliveira explicou à agência Lusa que decidiu filmar «Bobô», depois de conhecer uma mulher guineense. «Sabia muito pouco sobre o assunto [mutilação genital feminina] e tinha aversão, e ainda hoje tenho, mas não conseguia contextualizar», contou Inês Oliveira, que optou por tratar o tema «do ponto de vista do simbólico e não analisá-lo tanto do ponto de vista físico».

Em Toronto será ainda exibida a longa-metragem
«A Batalha de Tabatô», de
João Viana, outro filme no contexto da Guiné-Bissau, descrito pela organização do festival como uma «meditação alegórica sobre os tormentos da atualidade», naquele país africano. João Viana, que nunca tinha estado na Guiné-Bissau, viajou para Tabatô, uma aldeia de músicos mandingas, e veio de lá com dois filmes, uma longa e uma curta-metragem.

Em entrevista à Lusa, quando a longa-metragem passou no IndieLisboa, o realizador contou que, daquela viagem a Tabatô, resultou «um filme de descolonização mental».

«Da mesma maneira que nós temos um olhar viciado para com eles – olhamos sempre de cima do cavalo, estamos com o olhar sujo, eles também nos olham de baixo para cima», comparou. O «nivelamento» de olhares «demorou alguns anos», mas funcionou e João Viana espera que os espetadores também saiam do filme «com o olhar limpo».

A par daquelas duas longas-metragens, Toronto selecionou ainda duas curtas portuguesas.

«O Corpo de Afonso», de
João Pedro Rodrigues, filme produzido durante Guimarães - Capital Europeia da Cultura 2012 exibido em Locarno, «apresenta uma pesquisa brilhante e idiossincrática sobre a fascinação antiga de Portugal pelo corpo do primeiro rei, Afonso Henriques», descreveu a organização.

A este filme junta-se ainda
«Redemption», curta-metragem que
Miguel Gomes exibirá no festival de Veneza e só depois em Toronto. O filme é uma ficção de 26 minutos co-produzida com França, Alemanha e Itália e acompanha quatro personagens em épocas distintas - uma criança em Portugal, em 1975, um idoso em Milão, em 2011, um pai em Paris, em 2012, uma noiva em Leipzig, em 1977 - à procura da redenção.

O festival de cinema de Toronto decorrerá de 5 a 15 de setembro.