O Ministério da Cultura (MC) está em consulta com várias entidades do setor cinematográfico português até ao fim de agosto para perceber se é possível reabrir o Cinema Monumental, em Lisboa, confirmou o jornal online Observador junto da tutela.

A ação surge após a empresa proprietária do edifício, a Merlin Properties, ter apresentado um requerimento ao ministério de Pedro Adão e Silva para a afetação das salas de cinema a uma atividade de natureza diferente.

"O Ministério da Cultura recebeu, no passado mês de julho, um pedido de desafetação das salas de cinema do Monumental à atividade de exibição cinematográfica, que lhe foi dirigido pelos proprietários do edifício. Antes de tomar uma decisão, o ministro entendeu ser seu dever esclarecer se a possibilidade de reativar a exibição cinematográfica naquelas salas se encontra esgotada. Por isso, enviou uma carta às entidades com assento na SECA (Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual, do Conselho Nacional de Cultura), com vista a apurar se existem interessados na exploração comercial desses cinemas”, confirmou o gabinete do ministro por e-mail ao jornal.

O Ministério também "solicitou esclarecimentos adicionais à proprietária do edifício" e “só na posse de todos estes elementos o ministro poderá tomar uma decisão sobre o pedido de desafetação que lhe foi dirigido. Ainda assim, a confirmar-se a existência de interessados, uma eventual reativação do cinema Monumental dependerá sempre do acordo entre aqueles e o proprietário do edifício”.

Uma notícia a 31 de julho do mesmo jornal avançava que a Merlin Properties considerava que o cinema no Saldanha não tinha viabilidade para reabrir.

créditos: Medeia Filmes

Com capacidade para mais de 800 espectadores, as quatro salas do cinema Monumental foram inauguradas a 18 de setembro de 1993, com a presença do cineasta italiano Bernardo Bertolucci, num edifício de comércio e escritórios no mesmo espaço onde antes funcionou o antigo e icónico Cine-Teatro Monumental.

Exploradas pela exibidora Medeia Filmes, do produtor Paulo Branco, a programação privilegiava o cinema independente e de autor, com destaque para o europeu. Também era um dos poucos cinemas onde era proibido o consumo de pipocas e as sessões não tinham intervalo ou eram antecedidas por vários minutos de publicidade.

Em dezembro de 2018, a Medeia anunciou que deixaria de explorar diariamente as salas a partir de 21 de fevereiro do ano seguinte por não ser viável em termos económicos, mantendo apenas a exibição regular aos fins de semana na sala maior até que o edifício fechasse para obras.

Antes do encerramento definitivo a 29 de setembro com uma sessão gratuita de "Guerra e Paz" (1956), de King Vidor, a Medeia comunicou aos assinantes do seu cartão de fidelização o "compromisso" de voltar a programar o espaço a tempo inteiro após as obras.

créditos: Medeia Filmes

O espaço original, Cine-Teatro Monumental, inaugurado a 14 de Novembro de 1951, tinha uma sala de cinema com 2710 lugares e outra para teatro e outros espetáculos composta por 1182, além de um café-restaurante e uma sala para exposições artísticas.

Era a "era das catedrais" erigidas à Sétima Arte em Portugal e tornou-se a maior referência de exibição de cinema de Lisboa: por lá passaram alguns dos maiores eventos do seu tempo, como a reposição de "E Tudo o Vento Levou" e as estreias de "Ben-Hur", "West Side Story", "My Fair Lady", "2001- Odisseia no Espaço" e, claro, "A Guerra das Estrelas".

Em 1971, acrescentou-se uma segunda sala de cinema, chamado "Satélite", de reduzidas dimensões e com 208 lugares, no último piso do edifício, onde era o salão-chá, numa tentativa para ir ao encontro dos novos tempos e hábitos do público.

Isto não impediu o declínio ao longa da década em consequência da quebra de espectadores causada pelo aparecimento de salas mais pequenas mas com programações mais atrativas, o entretenimento oferecido pela televisão e outras formas de espetáculo que chegaram a Portugal graças às alterações políticas após a Revolução de 25 Abril de 1974.

Sem público para justificar os custos de manutenção da gigantesca estrutura, a Câmara Municipal de Lisboa decretou a demolição do edifício em 1982.

Apesar da enorme onde de contestação, a última sessão de cinema foi a 27 de novembro de 1983 e o edifício desapareceu no ano seguinte, no que é considerado por muitos um dos maiores crimes patrimoniais e culturais provocados pela especulação imobiliária em Portugal.