O realizador e ecologista francês Yann Arthus-Bertrand, que estará em Lisboa na segunda-feira, para apresentar o filme “Human", considera-o "o mais ativista" dos seus trabalhos, porque aborda a guerra, os refugiados e a pobreza no mundo.

"É um pouco mais político do que todos os meus projetos anteriores, e o mais ativista. Juntei milhares de entrevistas a pessoas de 60 países e imagens da natureza", descreveu o fotógrafo e realizador, contactado pela agência Lusa, em Marrocos, onde se encontra a desenvolver um novo projeto.

Yann Arthus-Bertrand, mundialmente reconhecido por projetos como o livro de fotografia aérea “La Terre vue du Ciel”, o documentário “Home – O Mundo é a nossa Casa” ou a exposição “7 mil milhões de Outros”, percorreu com o filme “Human” 60 países, recolhendo mais de dois mil depoimentos.

Como em trabalhos anteriores, as entrevistas a homens e mulheres de todas as idades e de múltiplas culturas recaem em questões universais como o amor, a felicidade, a família, o sexo, e também a justiça, a pobreza, a discriminação, os conflitos.

"Olhamos para o mundo, e quando vemos os refugiados, é impossível não compreender porque fogem para a Europa. Falei com pessoas no Sudão, por exemplo. O meu país - a França - é o sexto mais rico do mundo, onde há habitação, educação, serviços de saúde. No Sudão não há nada disto e, obviamente, as pessoas querem vir para França", comentou.

Sobre o ativismo ecológico e político do filme, Yann Arthus-Bertrand volta ao caso do seu país, para sublinhar que, "apesar de a França ser um país rico, que acolhe muitos imigrantes, continua a ser dos países que mais vende armas no mundo".

"São questões que devem ser levantadas porque, por mais perguntas que façamos, estes factos acabam por não fazer sentido", sustentou.

Entre os entrevistados estão refugiados sírios, trabalhadores fabris, veteranos de guerra norte-americanos, presidiários, no corredor da morte, aborígenes, camponeses africanos e tantas outras pessoas das mais diferentes origens e culturas do planeta.

Questionado sobre os milhares de entrevistas que tem feito há anos com a sua equipa por todo o mundo, e a que conclusão chegou, o realizador francês continua a acreditar numa utopia que mude o mundo: "Sei que é utópico, mas continuo a acreditar muito no amor. Vai ser o amor e o respeito pelos outros que provocará uma mudança positiva no mundo".

"Nestes meus projetos tentei ir ao essencial, e é disso que as pessoas falam, do mais importante na sua vida", apontou, indicando que se encontra em Marrocos a começar um projeto de três anos só com depoimentos de mulheres.

Yann Arthus-Bertrand acredita que "as mulheres têm qualidades especiais que os homens não têm, e que podem contribuir muito para uma mudança positiva no mundo".

Ainda sobre os depoimentos que recolheu, muitos deles com situações dramáticas de vida, o realizador considera que "se aprende muito mais com experiências difíceis do que felizes".

"Tenho perguntado às pessoas por todo o mundo quais as experiências que mais as marcaram e são quase sempre dramáticas, como a perda de um ser amado, uma situação difícil e dolorosa, ter um filho deficiente", apontou.

Na opinião do realizador francês, "os momentos de felicidade são geralmente vividos sem pensar, mas os dramas e momentos difíceis da vida obrigam-nos a uma reflexão".

Yann Arthus-Bertrand veio a Lisboa há dois anos para apresentar a exposição “7 mil milhões de Outros”, que esteve patente no Museu da Eletricidade, em 2014 e 2015.

"Human" foi o primeiro filme a ter estreia mundial na Assembleia Geral das Nações Unidas, a propósito do 70.º aniversário da organização, e, no ano passado, fez parte da seleção oficial da Bienal de Veneza, tendo desde então percorrido o mundo para, com o seu conteúdo, tentar responder à questão “O que nos torna humanos?”.

Disponível gratuitamente na plataforma You Tube, em três volumes de 90 minutos, “Human” já ultrapassou três milhões de visualizações, mas em Lisboa será exibido em grande ecrã, na sua versão curta para cinema (143 minutos), sem intervalo, legendada em português do Brasil.

Na segunda-feira, o filme será exibido com a presença do realizador, às 20:00, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e, após a projeção, haverá um debate entre Yann Arthus-Bertrand e Jorge Braga de Macedo, moderado por Pedro Rebelo de Sousa.

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