«A Canção de Lisboa» (1933),
«O Pátio das Cantigas» (1941), «
O Grande Elias» (1950) e
«Benilde ou a Virgem Mãe» (1970): um dos factores comuns a estes filmes de épocas tão diferentes é o facto de todos terem sido produzidos pela
Tobis. Aliás, desde 1932, será mesmo ínfima a percentagem de filmes portugueses que não têm qualquer marca da empresa, enquanto produtora, local de rodagem ou prestadora de serviços de laboratório.

Hoje, e depois de já ter sobrevivido a muitas crises, a Tobis encontra-se numa encruzilhada, a precisar de um rumo. No passado dia 25, o Estado (que detém, através do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), uma percentagem de 96,4 do capital da empresa) assumiu: a Tobis vai mesmo ser privatizada.

O director do ICA,
José Pedro Ribeiro, indicou que em 2009 a Tobis teve resultados líquidos operacionais de 1,5 milhões de euros e um passivo de 5,6 milhões de euros, pelo que urge tomar medidas, principalmente numa altura de crise económica.

Embora já tenha assumido publicamente a vontade de privatizar a empresa, é hoje que, oficialmente, os detalhes da transacção e o futuro da Tobis estão na mesa da Assembleia Geral do ICA.

O realizador
José Fonseca e Costa, que esteve à frente dos destinos da Tobis na década de 90, considera que os problemas que hoje afligem a empresa são fruto da falta de uma política integrada para o sector do cinema, que se agravou na última década, e que, com os activos que tem, poderia ter encontrado outra forma mais produtiva para sair da crise. «Sem um plano de conjunto para a actividade audiovisual e cinematográfica da Tobis a sua venda implicará fatalmente que a empresa caia na mão dos especuladores imobiliários», sublinha o cineasta.

Por seu lado o historiador
José de Matos-Cruz, considera que «ou há um investimento, e há uma capacidade e uma lucidez suficiente para se saber enquadrar uma perspectiva comercial e uma perspectiva artística, e juntar as duas partir desse suporte industrial e das novas tecnologias e dos novos suportes, ou então isto é pura e simplesmente um artifício para um declínio muito mais doloroso».

A
Companhia Portuguesa de Filmes Sonoros Tobis Klangfilm, que aproveitava o nome e os equipamentos da alemã Tobis Klangfilm, foi criada a 3 de Junho de 1932, com o intuito de apoiar e fomentar o desenvolvimento do cinema em língua portuguesa. Instalada na Quinta das Conchas, no Lumiar, em Lisboa, começando a funcionar em pleno em 1935, para a rodagem de «As Pupilas do Senhor Reitor».

Em entrevista ao SAPO,
José Fonseca e Costa traçou um retrato do que considera ter sido feito de errado na Tobis ao longo dos últimos anos e José de Matos-Cruz recordou toda a evolução histórica da empresa. A Tobis, contactada pelo SAPO no âmbito de contextualizar toda o percurso da empresa, preferiu não prestar declarações durante este período de indefinição da empresa.

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