Profissional da animação há cerca de 30 anos,
Ron Diamond distinguiu-se como produtor, divulgador e empresário, fundador e diretor da
Animation World Network, o mais importante site internacional ligado à animação, fundador da produtora Acme Filmworks e membro do ramo das curtas-metragens da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. É precisamente nesta capacidade que ele está hoje em Portugal, a convite da Monstra - Festival de Animação de Lisboa, a apresentar um programa de filmes e uma masterclass em que apresenta as suas reflexões sobre o processo de nomeação dos filmes aos óscares e o que eles precisam de ter para lá chegar.

O processo de qualificação

«Para uma curta ser nomeável ao Óscar, tem de ir por duas vias: ou ganha o prémio principal num dos festivais que a Academia considera relevantes para o efeito [em Portugal, só o Cinanima é considerado], ou estreia comercialmente em Los Angeles, por um mínimo de três dias, tendo de ser exibido pelo menos duas vezes por dia e de estar disponível para uma audiência que pague bilhete. Há duas cadeias de cinema que aceitam uma verba e qualificam os filmes, exibindo-os muitas vezes à hora do almoço. Colocam um cartaz na porta a indicar que o filme está em exibição e qualquer um que ali passe pode pagar bilhete para ver aquela curta. Claro que há obras dos grandes estúdios, como os da Pixar, que estreiam mesmo comercialmente antes das longas-metragens deles, e isso qualifica-os imediatamente».

O processo de seleção

«A responsabilidade de cada ramo da Academia é escolher os melhores entre a totalidade de filmes propostos, porque nem toda a gente tem tempo para ver todos os filmes. No caso das curtas-metragens de imagem real, por exemplo, pode haver mais de 100 candidatos, ou seja 40 horas de tempo de projeção. Todos os membros do ramo das curtas-metragens são convidados para participar naquele que é chamado o «review comitee» e ver todos os filmes. Os resultados não são obtidos em discussão, cada um dá uma pontuação a cada filme e as películas que ultrapassarem o valor mínimo entram na «short-list» das nomeações, baseada no numero de pessoas que de facto viram os filmes. E isso reduz a lista. A «short list» pode ter entre cinco e 10 filmes.

Depois, geralmente em Janeiro, há uma projeção dos filmes da «short-list» em Los Angeles, Nova Iorque e San Francisco, para qualquer pessoa do ramo das curtas-metragens que os queira ver. Os cinco são então escolhidos por votação e divulgados publicamente no dia do anuncio das nomeações, e a partir daí qualquer membro votante da Academia é convidado a ir às projeções e votar no vencedor. Se o membro já tiver visto os filmes numa sessão anterior, fica dispensado de ir a essa, mas a Academia tem de garantir que os filmes foram vistos por quem os vota».

A escolha final

«Por muito que analisemos os vencedores, não há uma regra, ninguém pode garantir uma vitória. Nem a Pixar ganha todos os anos e tem ótimos filmes. Eu tenho algumas teorias, mas há várias condicionantes. Entre os nomeados, há filmes que são muito fora do normal, geralmente mais abstratos, e cuja maior vitória é a conquista da própria nomeação, porque depois, devido à sua diferença, dificilmente terão uma consensualidade que lhes garanta a vitória. Depois, há filmes muito bons mas aos quais falta qualquer coisa, um golpe de asa final, que os eleve acima da norma, e esses também acabam por não conseguir. Finalmente, há casos, cada vez mais raros, em que há dois filmes excepcionais no mesmo ano, em que ambos mereciam ganhar, e um deles, mesmo merecedor, inevitavelmente não é premiado.

Geralmente, os filmes que ganham são muito pessoais, são filmes em que se sente que há um investimento pessoal do próprio autor, que têm um rosto humano por trás, que não são feitos por comité. E isso é mais fácil de suceder num filme pequeno independente, feito por uma fração do orçamento dos filmes de grandes estúdios. É sempre muito importante um filme feito a partir de uma grande paixão, em que o cineasta põe ali alma e coração e acredita a 100% naquilo. Se ele conseguir passar essa emoção, então fica mais perto da vitória. Claro que quando os vencedores são anunciados, de repente todos nos tornamos génios, descortinamos ali alguma razão para o prémio e achamos que aquilo era previsível. Mas a verdade é que não há fórmulas exatas para a vitória».

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