“Creio que o filme apresenta uma perspetiva nova sobre narrativas com personagens trans, do ponto de vista em que é um filme completamente livre de violência e preenchido com muito afeto e com muito amor”, afirmou o realizador.

“E não existe ainda o hábito de serem criadas narrativas com este tom para personagens trans”.

A história centra-se no encontro entre Larissa, uma mulher trans, e Cláudio, um homem cis, numa noite em Lisboa, tendo produção de Andreia Nunes e Frederico Serra.

Ary Zara considera que essa faceta inesperada fez com que a curta ganhasse peso no circuito internacional, além de elogiar o trabalho dos protagonistas Gaya de Medeiros e Ivo Canelas, a fotografia de Leandro Ferrão e a edição de Sara Marques.

Depois de vencer prémios nos festivais Outfest e Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, a curta produzida pela Take it Easy tornou-se elegível para ser nomeada na 96.ª edição dos Óscares.

“Quando eu comecei a filmar ‘Um Caroço de Abacate’ jamais sonhei com isto”, disse Ary Zara. “Não era de todo o propósito do filme, nem era uma coisa que tivesse no meu universo”.

A integração na ‘shortlist’ de 15 curtas-metragens que podem ser nomeadas é o culminar de um percurso ascendente, que contou ainda com uma menção especial no AFI Festival e prémio de melhor filme queer do Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand (França).

“Daqui para a frente é continuar a acreditar que sim, que é possível conseguir levar o filme assim bastante longe”, afirmou.

A entrada do ator trans Elliot Page e da sua Pageboy Productions como produtores executivos deu ainda mais visibilidade à curta-metragem.

Se chegar às nomeações, que são anunciadas a 23 de janeiro de 2024, “Um Caroço de Abacate” fará história, ao ser o primeiro filme português de ficção a consegui-lo.

Em 2023, a curta-metragem de animação “Ice Merchants”, de João Gonzalez e Bruno Caetano, foi a primeira produção portuguesa a ser nomeada. Tal nunca aconteceu numa categoria de ficção.

Ary Zara considera que não é por faltar talento em Portugal, mas por ser uma indústria pequena e sem recursos.

“Eu vejo que realmente em Portugal existe muito talento, não existe é um apoio cultural para que este talento seja desenvolvido e impulsionado”, considerou o realizador.

“Nós em Portugal temos muito pouco apoio para fazer cinema, e logo aí há muito poucas pessoas que conseguem ter acesso”, frisou. “Com os orçamentos pequenos tentam-se fazer coisas grandiosas”.

A 96.ª edição dos Óscares está marcada para 10 de março de 2024 em Los Angeles.