O documentário “Viagem ao Sol”, de Susana de Sousa Dias e Ansgar Schaefer, sobre crianças austríacas enviadas para Portugal após a II Guerra Mundial, estreia-se nos cinemas a 28 de dezembro, revelou hoje a produtora.

Susana de Sousa Dias e Ansgar Schaefer têm trabalhado de forma consistente na criação de documentários que partem de arquivos históricos e que abordam questões com ligação à atualidade.

"Viagem ao Sol" reúne algumas das histórias de centenas de crianças austríacas que foram enviadas para Portugal depois da II Guerra Mundial, para recuperarem de traumas da guerra.

Recorrendo apenas a imagens de arquivo e testemunhos orais, o filme é "uma reflexão sobre crianças em situação de conflito e pós-conflito, e a potência do seu olhar em revelar realidades ofuscadas pelas narrativas oficiais", como se lê na sinopse.

O documentário já percorreu cerca de 20 festivais em vários países, como o Festival de Sevilha, o Festival de Cine Europeu, o IndieLisboa e o Porto/Post/Doc.

Em entrevista à agência Lusa em 2022, quando "Viagem ao Sol" passou no Porto/Post/Doc, Susana de Sousa Dias explicou que “é um filme que vai questionar não só uma história, mas utilizando também o material de arquivo, dando grande relevância à imagem. É só testemunhos e imagem de arquivo”.

“As pessoas ficam afetadas pelo filme, pela história humana, e pelo seu eco atual. Da atualidade, o eco para o passado. Como vemos aqui uma continuidade tão grande?”, questionou Ansgar Schaefer.

Os dois realizadores começaram a trabalhar no filme em 2017, depois de uma ideia que já tinham desde os anos 1990; e a guerra na Ucrânia, em 20222, veio trazer para cima da mesa de novo “uma terrível atualidade” à obra, lamentou Susana de Sousa Dias.

Sobre o material visual em que trabalharam, os dois realizadores explicaram que digitalizaram filmes e fotografias de famílias, pequenos registos encontrados em pesquisas e ainda “imagens oficiais, usadas como propaganda pelo Estado Novo”.

Esse trabalho sobre arquivo e memória está também presente em filmes como "Fordlandia Malaise" (2019), sobre o projeto falhado de uma cidade industrial, fundada por Henry Ford na floresta amazónica em 1928, para aceder a novas fontes de borracha, e "Luz obscura" (2017), construído sobre fotografias de detidos pela polícia política da ditadura portuguesa (1926-1974).