"Fado Errático" foi criado pelo compositor italiano Stefano Gervasoni, "completamente apaixonado pelo repertório de Amália Rodrigues", disse à Lusa Cristina Branco que interpreta doze canções originais de Amália, num projeto em que a tradição do fado se alia à música contemporânea, com a 'etiqueta' do Instituto de Pesquisa e Coordenação de Música e Acústica (Ircam), fundado pelo compositor Pierre Boulez, no Centro Pompidou.

"O que o Stefano Gervasoni criou foi uma peça de música contemporânea baseada em alguns fados da Amália, cantados linearmente e com o recurso [a materiais de base atuais] e à tecnologia áudio do Ircam. Há uma voz que está a cantar fados tradicionais, ouvindo-se por vezes sonoridades dessa voz, mas vinda de outros sítios, acompanhada por uma orquestra contemporânea com uma linguagem contemporânea", descreveu a cantora, aludindo à "ferramentas" próprias do Ircam.

Em palco, Cristina Branco vai estar acompanhada por 20 músicos do Ensemble Cairn, que "só por vezes acompanha os fados", havendo, porém, uma guitarra portuguesa, que "é o fio condutor dos dois universos: o fado e a música contemporânea", continuou.

Além da guitarra portuguesa, a orquestra é composta por uma guitarra clássica, cimbalão, acordeão, flauta, oboé, clarinete, fagote, trompa, trompete, trombone, harpa, percussão, violino, viola d'arco, violoncelo, contrabaixo e um dispositivo eletrónico "live", que mistura rumores de Lisboa com os melismas da eletrónica e a voz da cantora.

Cristina Branco vai interpretar, por exemplo, pela primeira vez, "A Lágrima", mas também "Maria Lisboa" e "Barco Negro", que "é talvez aquela música que possa parecer mais dissonante [da música contemporânea], mas depois há um ponto em que tudo conflui", afirmou.

"Fado Errático", que estreou a 15 de março na Scène Nationale d'Orléans, em França, é uma nova versão do projeto "Com Que Voz" que Cristina Branco já tinha levado à Casa da Música, no Porto, em 2008, mas desta vez não há um barítono a cantar poemas de Camões.

O espetáculo vai ser apresentado no festival ManiFeste-2015, organizado pelo Ircam, que decorre de 02 de junho a 02 de julho, em Paris, com uma programação orientada para a "inovação e criação emergente" na música, teatro, dança e vídeo.

Cristina Branco deve, depois, regressar a França, "em novembro e dezembro", provavelmente "com um disco novo por essa altura", afirmou ainda a cantora distinguida com o Prémio Amália Internacional, em 2006, e cujo mais recente álbum de originais, "Alegria", data de 2013.

No ano passado, a fadista de 42 anos editou a antologia "Idealist", que reunia temas representativos de uma carreira de 17 anos, com três novos: um fado tradicional, "Na rua do silêncio", para um poema de David Mourão-Ferreira, uma criação de Amália Rodrigues, e duas canções com letras de Mário Cláudio, "Se fores não chores por mim" e "Fado da partilha".

@Lusa

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