Nos últimos anos, Brooklyn tem sido berço de tantos hypes dentro da pop mais experimental - e nem sempre classificável - que se torna difícil distinguir o que apenas promete daquilo que vem para ficar.
Em 2010, com o seu álbum de estreia, "Treats", os Sleigh Bells foram dos residentes nesse bairro nova-iorquino que prometeram muito e chegaram longe: foram amplamente louvados pela imprensa, tiveram entre os fãs gente como M.I.A. ou Beyoncé (e colaboraram com ambas) e as suas canções espalharam-se um pouco por todo o lado, desde bandas sonoras de videojogos às de séries como "Gossip Girl" ou a versão norte-americana de "Skins".

Com "Reign of Terror", Derek Miller e Alexis Krauss protagonizam agora um dos regressos mais aguardados do início de 2012 e depressa percebemos que não mudaram muito: continuam a gostar de misturar e triturar géneros, voltam a fazê-lo de forma efervescente e a soar melhor e mais intensos à medida que aumentamos o volume. Ou seja, ainda são uma ótima companhia para conduzir na autoestrada e, sobretudo, a resposta certeira para aquelesvizinhos que obrigam o prédio inteiro a ouvir Adele ou Tony Carreira logo de manhã.

Ele, ela e um disco que pede um palco

Ele, na guitarra e produção, trata de conjugar riffs da escola hard rock (Van Halen ou Def Leppard são influências assumidas), batidas mais contemporâneas (não tão devedoras do hip hop como na estreia) e ambientes shoegaze.
Ela faz da sua voz e presença elementos essenciais dessa fusão portentosa, indo da vertente ginasticada de cheerleader (disparando palavras como os The Go! Team) à languidez e fragilidade de uma princesinha dream pop ou de girl groups dos anos 60.
O à vontade com que se atiram a este noise açucarado, sempre eficaz e por vezes hipnótico, até nos faz esquecer que esta mistura nem é assim tão fresca - que o digam os suecos Whale, por exemplo, sem metade desta atenção nos anos 90 - ou que "Reign of Terror" é algo unidimensional, apesar da amálgama espartana.

Mais polido do que o antecessor, o disco dá também mais atenção às texturas e ao peso da produção do que à composição, o que não invalida a imponência de "Born to Lose" ou "Comeback Kid", os elétricos primeiros avanços, ou o encanto de momentos como "Never Say Die" ou "D.O.A.", que fecham o alinhamento num registo etéreo.

De resto, e para um álbum tão imediatamente gratificante, "Reign of Terror" sobrevive muito bem a audições repetidas e continua a incitar a reações físicas - um bater de pé, para começar; algum headbanging, depois, e por aí afora. Esse embalo de rock de estádio, sugerido logo na primeira faixa, "True Shred Guitar", que capta a interação entre a banda e o público, leva-nos a apostar, sem grandes hesitações, que o disco ganha outra dimensão quando subir a palco. Gostámos desta primeira parte, ficamos agora a ansiar pela segunda...

@Gonçalo Sá

Teaser de "Reign of Terror":

Videoclip de "Comeback Kid":