DJ Marfox, 26 anos, de ascendência são tomense, é hoje um homem acostumado a dar entrevistas, a falar da sua música, a contextualizá-la e a divulgá-la, sobretudo fora de Portugal, mas, há dez anos, a música que criava estava ainda circunscrita aos subúrbios.

"Revolução 2005-2008" recupera "as primeiras músicas cem por cento minhas, que não são remisturas nem 'edits'", afirmou o produtor à agência Lusa. O álbum recolhe as músicas que fez ainda antes da conhecida compilação "DJs di Guetto", que saiu em 2006.

Nessa altura, Marlon Silva tinha 17 anos, estudava em Sacavém, nos subúrbios de Lisboa, vivia numa zona pobre, num período em que "queria ser reconhecido na escola, perante a sociedade suburbana, fazer música e ter 'feedback'".

O álbum "Revolução" é um espelho dessa versão "crua" de Marfox, dos tempos em que a sua música circulava por tudo o que era bairros ao redor de Lisboa, nas duas margens do rio, e não chegava à cidade. Isto tudo ainda antes da ligação à promotora Filho Único e à criação da editora Príncipe Discos, pela qual lançou, em 2012, o EP "Eu sei quem sou".

DJ Marfox usa a palavra "revolução" para descrever o que aconteceu à apropriação do kuduro pela sociedade portuguesa, embora ainda reconheça que "há muito por fazer": "A música era posta à margem, não era percebida; os caucasianos portugueses não viam antes como veem hoje esta nova música afro-portuguesa", disse.

Hoje, a Príncipe Discos já editou cerca de uma dezena de títulos e protagoniza noites regulares de atuações em Lisboa, quase sempre esgotadas.

Dez anos depois daqueles primeiros temas, DJ Marfox reconhece que a vida mudou completamente: "Passo muito tempo em aviões, mas continuo a fazer música no meu quarto, melhorei as condições, investi em material como DJ e músico", disse. Ainda vive nos subúrbios, agora na Quinta do Mocho, também no concelho de Loures.

É longa a lista de entrevistas e reportagens que a imprensa internacional tem feito com DJ Marfox, sobre os bairros onde viveu, sobre kuduro e a música eletrónica, sobre a cultura africana e sobre a trupe de músicos e produtores com quem trabalha e convive há anos.

Eleito pela Rolling Stone como um dos dez artistas a seguir em 2014, Marfox sublinha que "há sempre trabalho de pesquisa a fazer e há muitas pessoas cá [em Portugal] e lá fora que ainda não conhecem o potencial desta música, do kuduro feito cem por cento em Lisboa".

Marlon Silva é descrito pela Nos Discos, editora de "Revolução", como um "jovem prodígio" com "estatuto internacional". "Estou como sonhei e ambicionei estar. Estou a lutar para continuar a estar bem, mas o mais importante é mostrar a música", disse.

Recentemente fez remisturas para tUnE-yArDs e para a rapper Capicua. Tem mais colaborações sobre as quais não pode ainda falar e tem a agenda preenchida até setembro, sobretudo com atuações fora de Portugal.

@Lusa