“São cinco histórias contadas em simultâneo, um dos núcleos é de apostadores, e coloca-se muitas vezes esta questão: ‘Temos mesmo de ser cinco jogadores?’ E, na verdade, estes cinco atores fazem 24 personagens a uma velocidade assombrosa”, adiantou à agência Lusa o encenador.

“Essa vertigem, essa velocidade, interessa-me imenso trabalhar. Ou seja, tanto uma como outra são duas coisas que, no presente, não podemos controlar, e também a ideia de que um acontecimento mínimo pode gerar uma catástrofe. Politicamente, isso interessa-me imenso”, afirmou João Pedro Mamede.

"A Estupidez" estreia-se na quarta-feira, no Teatro da Politécnica, ao Príncipe Real, em Lisboa, com os atores Andreia Bento, António Simão, David Esteves, Guilherme Gomes e Rita Cabaço. A cenografia e figurinos são de Rita Lopes Alves e a iluminação de Pedro Domingos.

A peça do autor argentino de 46 anos, de quem os Artistas Unidos levaram à cena “A Modéstia”, em 2014, foi traduzida por Alexandra Moreira da Silva e Guillermo Heras.

O encenador disse à Lusa que a peça, que decorre em Las Vegas, em quartos de hotéis diferentes, “não se desenvolve num ambiente claustrofóbico, pois a vertigem não é de um espaço mental”.

“A vertigem aqui é física, realmente, estes atores precipitam-se para o fim do espetáculo, desde o seu início, e o jogo aqui é físico e da própria linguagem”, acrescentou.

Uma das personagens, um matemático, encerra em si um segredo que descobre a “equação Loren”, que permite antecipar todo o tipo de comportamentos, e permitir perceber os sistemas complexos e da sociedade decadente em que vivemos.

“O segredo em si não é revelado, mas a peça lança algumas questões e possibilidades do que pode vir a ser a catástrofe”, disse.

Segundo o encenador, uma das questões que a peça coloca “é de que aquelas personagens não se escutaram uns aos outros, não se ouvirem e falarem só eles, nem pensarem o quer que seja do outro, ou seja o mundo que está perdido. É o fim da linguagem”, rematou.

"A Estupidez" é a quarta peça do ciclo “Os sete pecados de Jerónimo Bosch”, do autor argentino, da qual faz também parte "A Modéstia", levada à cena em Lisboa em 2014.

Segundo uma nota dos Artistas Unidos, trata-se de "uma farsa trágica, um carrossel vertiginoso de situações triviais e ficcionadas, uma paródia aos dias das nossas televisões, um carnaval terrível".