A obra "A Vida Numa Mala - Armando Rodrigues de Sá e Outras Histórias" da jornalista portuguesa Cristina Dangerfield-Vogt e da historiadora alemã Svenja Länder, relata várias histórias de emigrantes nos anos 1960 e mais recentes, nomeadamente a do português que ainda figura nos manuais escolares alemães como o milionésimo imigrante a entrar na Alemanha.

"O Armando Rodrigues de Sá foi o imigrante um milhão que chegou à Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial no contexto dos acordos de recrutamento de trabalhadores do Governo alemão porque a Alemanha não tinha trabalhadores suficientes para reconstruir o país", contou à Lusa Svenja Länder.

Foi a 10 de setembro de 1964, na estação de Colónia-Deutz, que Armando Rodrigues de Sá, natural de Vale de Madeiros, distrito de Viseu, recebeu o título de milionésimo imigrante na Alemanha, numa receção que incluiu banda de música e até a oferta de uma motorizada que hoje se encontra na Casa da História de Bona.

O título "imigrante um milhão" simbolizou a expansão económica da antiga República Federal da Alemanha e os chamados "gastarbeiter", ou seja, "trabalhadores convidados" ao abrigo de contratos bilaterais entre o Governo alemão e países exportadores de mão-de-obra como Portugal, Itália, Espanha, Grécia, Turquia, Marrocos e Tunísia.

"Muitos alemães pensam que o imigrante um milhão foi um turco porque existe um filme em que um turco ia a atrás do imigrante um milhão. Como os turcos são o grupo mais visível [na Alemanha], decidimos abrir o livro para outros imigrantes e falar também sobre os turcos", continuou Svenja Länder.

A historiadora vai apresentar a obra em Paris, cerca de dois anos depois de ter passado na capital francesa com o neto de Armando Rodrigues de Sá, António de Sá, com quem refez a viagem de comboio do avô, na sequência das comemorações do cinquentenário da sua chegada a Colónia-Deutz e da celebração do Acordo de Recrutamento de Trabalhadores Portugueses entre Portugal e a Alemanha.

"Há dois planos temporais no nosso livro: um é em 1964, no tempo do Armando, um ícone da imigração, e o outro é em 2014 quando fiz a viagem com o neto", explicou a historiadora, precisando que durante essa viagem entrevistou emigrantes portugueses dos anos 1960 e outros mais recentes cujos relatos integram o livro.

Além de revisitar o percurso das primeiras vagas de portugueses que emigraram para a Alemanha e o da comunidade turca que vive no país, o livro aborda, ainda, os movimentos migratórios atuais e os refugiados de hoje.

"Temos entrevistas com quatro portugueses que emigraram para Berlim em 2014 e que falam de uma Europa sem fronteiras, da Ryanair, etc. Escrevemos este livro em 2015, durante a nova onda de migração para a Alemanha, e decidimos incluir um rapaz da Síria", concluiu Svenja Länder, em referência a Sallar, de 25 anos, que pagou 10 000 euros para ir para a Alemanha, numa viagem em que passou pela Turquia, Grécia, Itália e Suíça.

A obra "A Vida Numa Mala - Armando Rodrigues de Sá e Outras Histórias" foi lançada em abril, pela Oxalá Editora, e já foi apresentado em Berlim, Porto, Lisboa, e Hamburgo.

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