Criado e encenado por Albano Jerónimo, o espetáculo tem libreto e adaptação de Mickaël de Oliveira, a partir do texto “Tivessem ficado em casa, seus anormais”, do dramaturgo argentino Rodrigo García.

Albano Jerónimo explicou ter começado a pensar no espetáculo há dois anos, partindo do texto do dramaturgo e publicitário argentino, “um revolucionário nato”, que fala de pequenos universos que esbate em pequenas barreiras ou fronteiras sociais, ou guetos”.

Depois, o ator e encenador começou a pensar como ia trabalhar o texto do dramaturgo, “em como adensar esta escrita, já por si revolucionária”, tendo chegado a um universo operático.

“A música vem aqui como um ingrediente para ser um veículo da palavra, para chegar de uma forma mais direta às pessoas”, explicou. Porque o encenador “acredita que a música toca as pessoas “de uma forma mais imediata do que a palavra dita”.

Albano Jerónimo desafiou Mickael Oliveira, um dos dramaturgos atuais que mais admira, a fazer um libreto com uma dramaturgia paralela ao texto de Rodrigo García, sugerindo-lhe então a personagem Fitzcarraldo, protagonista do filme homónimo do escritor e cineasta alemão Werner Herzog.

E é assim que este objeto operático, como o definiu Albano Jerónimo, com música original de Vítor Rua, se centra em torno de um melómano alemão que, durante a crise em Portugal, é convidado pelo diretor do Teatro Nacional para trabalhar uma ópera de câmara de e para a comunidade.

Um melómano que, nas palavras de Albano Jerónimo, vem “evangelizar esta massa, esta comunidade através da música do 'homem branco'”.

No espetáculo participa também um grupo da cooperativa Crianças Inadaptadas de Santa Isabel (Crinabel) que, segundo o encenador, vem “estilhaçar e adensar ainda mais esta ideia da palavra”.

A figura de Fitzcarraldo surgiu, segundo Albano Jerónimo, para ligar as áreas de ópera, já que tudo o que é cantado no espetáculo é integralmente do dramaturgo Rodrigo García.

“Precisava de ligar estas árias, estas histórias de Rodrigo [García] e então senti necessidade de criar dramaturgicamente outra camada, e foi aí que Herzog apareceu com esta ideia do Fitzcarraldo, que vai para um país estrangeiro e que tem um sonho completamente doido de criar uma ópera - no caso do filme, a ópera de Manaus - e, em prol disso, esmaga, cilindra pessoas, sem qualquer pudor”, frisou.

Albano Jerónimo sublinha que o espetáculo é um “elogio à diversidade”, que tem um paralelismo com a situação que Portugal ainda atravessa.

Não é por acaso que é um alemão, sublinha o encenador. “Não é por acaso que é um alemão. O espetáculo ‘é’ a nossa situação política, económica, social. Tudo isso está lá debaixo”, frisou.

Em cena na Sala Estúdio, até 02 de julho, com espetáculos às quartas-feiras, às 19:30, de quinta-feira a sábado, às 21:30, e aos domingos, às 16:30, “Um libreto para ficarem em casa, seus anormais” tem cenografia e figurinos de Tiago Costa Pinhal e tradução e assessoria artística de John Romão.

A interpretação é de Albano Jerónimo, Anabela Moreira – que, em algumas sessões, intervala com Albano Jerónimo na interpretação de Fitzcarraldo – Ana Celeste Ferreira, Ana Lopes Gomes, Ana Rosa Teixeira, António Coutinho, António Parra, Carolina Sousa Mendes, Cláudia Liucas Chéu, Eliana Veríssimo, Helena Guerreiro, Joana Osório, Leonor Devlin, Luís Puto, Margarida Antunes, Maria Ladeira, Mickaël de Oliveira, Nuno Reis, Ricardo Gageiro, Rui Fonseca, Sofia Duarte Silva, Solange Freitas e Vítor Rua.