“Esta edição vem colmatar uma lacuna muito grande, revelando dois LP que Amália gravou, na década de 1970, em Itália, e que nunca conheceram edição portuguesa, um com folclore italiano, 'A Una Terra che Amo' [gravado em estúdio em 1973], e outro gravado ao vivo em Roma, [‘Amalia in Teatro', em 1976], e que demonstra o êxito que Amália teve em Itália, que foi mesmo uma loucura”, disse à agência Lusa o investigador Frederico Santiago, responsável por anteriores edições da cantora, como "Amália no Chiado" (2014), e “Amália canta Portugal” (2016).

Este ano, Santiago projeta ainda a edição comemorativa dos 50 anos do álbum “Fados’67, também conhecido com o título ‘Maldição’”.

“Vou aproveitar essa efeméride para fazer uma edição com tudo o que a Amália gravou com o conjunto de guitarras de Raul Nery, que foi imenso e é extraordinário, pois coincide com o auge da voz da Amália”.

Quanto a "Amália em Itália", o primeiro CD inclui “A Una Terra che Amo”, com canções como “Amor Dammi quel Fazzolettino”, “Sora Menica”, “La Tarantella”, “Canto delle Lavandaie del Vomero” ou “Sant’Antonio allu Desertu”.

O CD inclui ainda gravações que Amália fez em Portugal, entre 1967 e 1971, nomeadamente “Coimbra”, cantada em italiano, “La Casa in Via del Campo”, versão italiana de “Vou dar de beber à dor”, de Alberto Janes, que estreou no Festival de Veneza, e ainda “Mio Amor, Mio amor”, “Il Mare è Amico Mio”, “La Tramontana” (com coro), “Ay che Negra”, versão italiana de “Barco Negro”, e dois ensaios da fadista.

O segundo CD é “Amalia in Teatro”, gravado ao vivo em Roma em 1976 e editado em Itália em 1978, que também nunca conheceu edição portuguesa. Do alinhamento deste CD fazem parte, entre outros, as "únicas gravação comerciais" de “Mi Carro” e "Dolores" e ainda “Malhão”, “Cheira a Lisboa”, “Povo que Lavas no Rio", “Porompompero”, “O Cochicho” e “Ai Mouraria".

A intérprete, realçou Frederico Santiago, muitas dessas noites cantava apenas dois ou três fados, “mas não lhe retira a importância, pelo contrário". "Era uma espécie de altar que ela fazia, cantava as outras canções e depois havia aquele momento em que cantava o fado e isso era mágico, era quando acontecia mesmo fado”.

“Ela fez muito mais pelo fado, fazendo isto, do que se fosse debitar 13 ou 14 fados num recital para uma plateia que não percebia português. Foi assim, através do seu prestígio como cantora que o fado ganhou prestígio no mundo”, sentenciou.

O terceiro CD é constituído por “gravações inéditas ao vivo em Roma, Palermo, Catânia e Milão, em 1973”. Entre elas estão “Lisboa Antiga”, “Mi Florero”, “Vou Dar de Beber à Dor”, “Gaivota”, “Vai de Roda Agora”, “É ou Não É”, que teve uma versão em italiano, “La Filanda”, que a cantora Milva gravou, ou ainda “Malhão de São Simão”, “Madragoa”, “Valentim”, “Fado Amália” e “O mia Bella Madunina”, esta última, “um inédito absoluto, pois nunca [mais] foi gravada por Amália”.

Estas gravações foram encontradas nos estúdios Valentim de Carvalho, onde se mantinham no âmbito de um projeto de documentário realizado por Augusto Cabrita, “O Mundo de Amália”, que acabou por não se concretizar, disse Frederico Santiago.

O coordenador desta edição optou por deixar as intervenções do público, para se perceber “o delírio e como [os espetadores] conheciam o repertório da Amália, pedindo canções, como ‘Tirana’ ou ‘Barco Negro’”.