Em declarações à agência Lusa, o coordenador da edição discográfica, Frederico Santiago, afirmou que o triplo CD “é de uma riqueza impressionante, reunindo mais de 60 fados e canções, entre os quais quase um CD inteiro com música do Alain Oulman (1928-1990)” - que será o terceiro nesta edição, sendo a fadista acompanhada pelo Conjunto Guitarras de Raul Nery.

“É de ficar boquiaberto com a quantidade e a qualidade do que ela gravou nesta altura, sob todos os pontos de vista”, sublinhou.

A edição em CD inclui também inéditos, como “As Lavadeiras de Caneças”, ou o final do "Fado Acácio", de Acácio Gomes, e várias versões inéditas, nomeadamente da canção “Vai de Roda Agora”, de Alberto Janes, “uma versão de cair para o lado” de “Libertação” (David Mourão-Ferreira/Fado Meia-Noite, de Filipe Pinto), de "Aïe Mourir pour Toi" (Charles Aznavour), ou ainda uma versão de “Naufrágio” (Cecília Meireles/Alain Oulman), disse Santiago.

Em 1967 foi publicado o LP "Fados 67", o primeiro em estéreo editado por Amália e o primeiro onde é acompanhada por mais do que uma guitarra e uma viola e, no âmbito do 50.º aniversário desta edição, é publicado este triplo CD que inclui “um assinalável conjunto de fados tradicionais, na fase em que a fadista mais gravou fado puro e duro”.

“Na realidade este álbum, ‘Fados 67’, fez parte dessas sessões de gravação de Amália Rodrigues, entre 1966 e 1968, que correspondem ao apogeu da sua voz e das suas capacidades artísticas”, disse à agência Lusa Frederico Santiago, que desde 2014, com o CD “Amália no Chiado”, está a organizar o catálogo discográfico da criadora de “Gaivota”.

Referindo-se a estas sessões de gravação, Frederico Santiago afirmou que “a Amália, então entre os 46 e os 48 anos, estava no auge absoluto da voz, já tinha uma carreira de recital enorme atrás dela, o que lhe dava um perfeito controlo artístico e vocal em géneros muito diferentes."

"Em termos de qualidade e quantidade foi o período em que a Amália gravou o melhor”, sublinhou. “Acho mesmo que é o melhor disco da Amália. E dizer isto nela é qualquer coisa, pois fez tantos e tão bons”.

Nestas sessões, feitas com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Frederico Santiago destacou também “o tocar extraordinário de Raul Nery e José Fontes Rocha. Eles foram a 1.ª e 2.ª guitarra, respetivamente, que se deram melhor”.

Nas sessões de 1966, Amália Rodrigues (1920-1999) é acompanhada por Raul Nery e José Fontes Rocha (guitarra portuguesa), Castro Mota (viola) e Joel Pina (viola baixo), mas nos anos seguintes o viola é já Júlio Gomes, que fazia parte, em pleno, do conjunto constituído por Raul Nery (1921-2012) e do qual, atualmente, apenas está em atividade Joel Pina, de 97 anos.

Frederico Santiago disse que Raul Nery e Fontes Rocha “faziam música de uma maneira irrepetível, porque nunca competiam um com o outro, aquilo é que era um 'tocar junto'”.

Para Santiago, este triplo CD revela “um auge de modernidade que aconteceu no fado e que continua por repetir”, pois a fadista tinha então “uma capacidade genial de colorir as palavras sem sacrificar nada do ponto de vista musical".

"Estas foram as sessões mais modernas que alguma vez existiram no fado, porque Amália tinha nesta altura um total domínio técnico sobre a voz, com um domínio completo da igualdade vocal, da afinação, das dinâmicas, do colorir as palavras, chegando a fazer uma verdadeira dramaturgia em cada fado ou canção em que agarrava. E depois fazendo tudo isso com uma voz daquelas que só acontecem por milagre”, disse.

O triplo CD, editado pela Valentim de Carvalho, e que inclui temas como “Rua Sombria”, que só tinha sido editado em vinil num EP, “Maldição”, “Fria Claridade”, “Há Festa na Mouraria”, “Fadinho Serrano”, “Inch’Allah” ou ”L’Important c’est la Rose”, é acompanhado por um texto de Frederico Santiago sobre Amália, o fado tradicional e o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, e outro do pianista Nuno Vieira de Almeida, que foi amigo da fadista, sobre a sua condição de grande intérprete.

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